Conto - O Encontro.



Orkut, MSN, telefone e finalmente o encontro cara a cara.

Como tantos outros relacionamentos, aquele era mais um que se iniciava graças aos avanços da tecnologia, graças à Internet.

Mônica era uma garota bonita e inteligente. Morena, cabelos cacheados na altura dos ombros, olhos cor de mel e um corpo bem cuidado que disfarçava sua verdadeira idade, ela não precisava usar daquele meio para conhecer gente nova, mas ela assim preferia. Pela internet, conforme dizia, quem se interessasse por ela o faria por afinidade. Estaria se apaixonando por suas idéias, seus planos, seus sonhos, sua essência... Só mostrava sua verdadeira foto quando já tinha certeza das intenções da pessoa do outro lado do computador.



Entre o primeiro scrap no Orkut até o dia do tão esperado encontro havia se passado pouco mais de um mês. O rapaz, que se chamava Vinícius, sempre fora educado e cordial, se mostrara sensível e tímido, claro, sem contar que era extremamente bonito. Cabelos lisos e longos até o meio das costas, pele branquinha e olhos que misturavam uma doçura angelical com a ferocidade de um lobo guarneciam um corpo modelado por algumas horas de academia. Ele parecia ser perfeito e era exatamente isso que Mônica procurava: perfeição. Ela costumava ser bastante seletiva com quem se dispunha a encontrar, afinal, ela podia.


O restaurante era movimentado, regra de um primeiro encontro virtual, e conforme o combinado o rapaz aguardava sua chegada próximo à porta. Fácil identificá-lo.


Não houve surpresas, ambos eram o que um esperava do outro, até que um ar enigmático tomou conta de Vinícius e deixou Mônica apreensiva.


- Adorei você Mônica, e se pretendemos levar isso adiante eu tenho que te contar um segredo... – disse ele segurando-lhe as mãos.


O que ele teria de tão importante para lhe contar? Seria ele gay? Membro de alguma facção criminosa? Possuiria alguma doença incurável?

Olhando dentro de seus olhos ele finalmente sanou sua curiosidade.

- Sou um vampiro.

Mônica travou uma luta sobre-humana para impedir que a gargalhada escapasse, mas conseguiu, embora seus olhos tivessem deixado claro para Vinícius sua verdadeira reação.

O jantar, que até então estava perfeito, transcorreu com poucas palavras, ninguém mais tocou no assunto e quando a garota tentava iniciar algum outro obtinha como resposta monossílabos irritantes. A reação da garota o tinha chateado.

Ainda assim ele se ofereceu para levá-la em casa, já era noite e ele não permitiria que ela perambulasse sozinha, as ruas eram perigosas.

Ao se aproximarem de uma pequena praça já deserta devido ao horário, Mônica decidiu então falar.

- Olha Vini, você é um cara fantástico, adorei você. Demonstrou ser exatamente o que era quando nos falávamos pelo computador e pelo telefone, e até mais, porque pessoalmente pude sentir o quanto você é “apetitoso” – uma piscada de olho complementou o termo - Não entendo o motivo de inventar uma história dessas, não tem necessidade.

O rapaz a olhou com seriedade, sua respiração se tornara ofegante, seus olhos de lobo pareciam prenunciar a morte.

Quando Mônica acreditou que ele iria atacá-la com seus caninos pontiagudos mostrando ser realmente o que dizia, o rapaz desandou a chorar.

Mônica ficou sem palavras.

- Desculpa Mônica, desculpa. É que sou tão comum, tão desinteressante, sei lá, precisava de alguma coisa para te impressionar, porque gostei de você também. Vamos esquecer esse papo tá bom? Estou morrendo de vergonha, eu sou um estúpido.

Com um gesto ela o chamou ao seu encontro, ele a abraçou encostando a cabeça em seu peito como se procurasse proteção e compreensão.

- Tudo bem Vinícius, vamos esquecer isso, vamos esquecer. – ela afagava-lhe os cabelos maternalmente sentindo suas mornas lágrimas lhe molhando a fina blusa.

Num salto o rapaz se afastou da garota, horrorizado.

- O que está acontecendo?

- Como assim Vini? Do que está falando?

- Você! Seu coração... ele não bate!!

Mônica torce o nariz contrariada e então deixam evidentes os caninos que lhe escapam dos lábios.

- Pois é, fácil saber que você não é um vampiro porque a criatura maldita aqui sou eu.

E com um longo salto Mônica desaba sobre o rapaz, para então alimentar-se de seu sangue e condenar, mais uma vez, sua própria alma ao inferno.



3 comentários:

  1. Um conto de Terror que se baseou na não-expectativa de um final comum, mas que buscou desviar-se para um tipo diferente de conclusão. Gostei da mudança de foco, na hora correta, e da conclusão inesperada.

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  2. Oscar, acabei de ler este conto e adorei!
    Parabéns! Muito interessante e prende mesmo o leitor.
    Fiquei curiosa para ler os outros.. rsrsr
    Abraços

    J@que

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  3. Direto. Seu conto, como o Inominável Ser destacou, surpreende. Eu pensei que nenhum deles fosse de fato vampiro. Pobre Vinie. Abraço, Oscar.

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