Conto - Morte de um Escritor.







Quase seis meses de trabalho se findavam naquela madrugada, quando o tão esperando “FIM” era digitado naquela obra de quase duzentas páginas.
Noites e noites defronte ao computador dando forma a todo o enredo daquela história que, segundo Eduardo, era a grande obra da sua vida.

Ele já havia escrito muitos livros e contos, nem todos tão bons quanto ele gostaria, mas aquele livro era diferente: Eduardo sentia que a inspiração que o levara a criá-la chegava a ser uma coisa transcendental, até mesmo sobrenatural.
Ao digitar os últimos caracteres, apressado diante dos trovões que indicavam a aproximação de uma tempestade, ele ficou estático diante da tela do computador como em estado de êxtase. Sim, ele havia terminado.
Os acordes de uma melodia do ERA chegavam aos seus ouvidos através dos fones conectados ao computador (método que ele empregava para desligar-se do mundo real e mergulhar em suas idéias), que sempre lhe ajudaram em seu processo criativo.
-Está feito, finalmente acabou. – murmurou satisfeito.
Assim que proferiu essas palavras um estrondo venceu a barreira dos fones que usava e ganhou seus ouvidos, antes que ele pudesse ter qualquer tipo de reação.
Um relâmpago atingiu sua residência e a descarga elétrica chegou até seu cérebro através dos fios que o ligavam ao computador.
Silêncio.

...

Três dias se passaram até que um amigo do trabalho veio até sua residência, preocupado com as ausências do companheiro de escritório e com o fato de ele não atender seus telefonemas.
A casa estava silenciosa, mas era possível perceber a tênue luminosidade promovida pelo computador, na sala.
Ele tocou a campainha, bateu à porta e chamou pelo amigo, mas não obteve nenhuma resposta. Preocupado, decidiu entrar na casa de qualquer maneira e arrombou a porta.
Deparou-se com o amigo, de costas para a entrada, sentado à frente do computador, estático.
-Eduardo, você está bem, cara? – mas não obteve nenhuma resposta.
Ao chegar até o amigo o encontrou catatônico, com os olhos vidrados na tela do computador e um sinistro sorriso a estampar-lhe a face
O monitor exibia o trecho final do seu último livro.
Logo, o amigo escritor foi encaminhado para um hospital, onde permanece ainda hoje com seu estado clínico inalterado.
Alguns meses após o ocorrido o computador de Eduardo ainda permanece ligado, onde se pode ler o final do seu último livro:

“E tão logo a grande obra da sua vida fora concluída, não havia mais motivos para ele permanecer no mundo real. Entregou-se então ao mundo de fantasias por ele criado, seu mundo ideal.”

FIM



Oscar Mendes Filho

Biografia: Nascido em São Paulo, é o responsável pelo blog Prisioneiro da Eternidade (www.prisioneirodaeternidade.blogspot.com) e escreve sobre o gênero terror tendo seis livros já publicados através do Clube de Autores.
Possui contos publicados em diversos trabalhos, entre eles a antologia Asgard: A Saga dos Nove Reinos,  2012 – Antologia Infernal, Flores do Lado de Cima, e Terrorzine e também cria jogos de RPG como Blood War, Highlands e Helland.






Um comentário:

  1. Óscar Monteiro Torres foi um aviador e militar português dos tempos da 1ª Guerra Mundial, até tem uma avenida em Lisboa com o seu nome... Nada a ver. Penso que como portuguesa fugiu-me a palavra para o nome, e estou mesmo envergonhada.
    Oscar, peço uma enorme desculpa pelo meu lapso, foi mesmo sem intenção!!! E já editei o post. Abraço

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