Conto - Eles Chegaram...


E, conforme prometido, mais um conto natalino de minha autoria.



“Eu acreditava que aquela seria mais uma noite como tantas e tantas outras, mas às vésperas da data natalícia do menino Jesus percebi que as noites de Natal nunca mais seriam as mesmas.

Sempre me satisfiz mais quando alguma vida era ceifada em noites como a do Natal. Pessoas felizes, sensíveis e se reconciliando. Ao menos eu arrancava-lhes a alma do corpo em um momento onde a amargura não mais a preenchia...

Ah, a noite de Natal...

Bêbados de estômagos empanturrados adulando aqueles por quem nutriram asco durante todo o ano. A hipocrisia adiciona um toque adocicado ao sangue.

Naquela solitária madrugada quente eu perambulava pelas ruas.

Não estava caçando, apenas caminhava e admirava a noite e as criaturas que, assim como eu, nela encontram paz.

Mas aquela noite era diferente, havia algo que eu não sabia, ainda, explicar o que era. 

Já há alguns dias eu sentia uma sensação incomum, que com o passar dos dias crescia e que eu jamais sentira.

A resposta chegou bem antes do que eu imaginava.

Acreditava que nunca veria algo como aquilo: um enorme bando de demônios "menores", enfurecidos, subia pela rua deserta, na minha direção.

Como chacais eles buscavam uma presa em meio a grunhidos animalescos.

Mas como eles conseguiram sair do reino de Lúcifer? O que eles faziam no MEU território? 

A forma como lidávamos com o territorialismo sempre foi fundamental para que convivêssemos em harmonia. Algo estava errado, o que estava acontecendo?

Vez ou outra algum demônio sempre encontrava uma forma de escapar dos domínios infernais, e procurava algum canto do planeta onde ainda não existisse predadores como eu, mas uma horda? Como aquilo era possível?

Vasculhei os porões da minha mente até que um súbito clarão me veio como resposta: Lamashtu.

A antiga promessa feita por aquele demônio parecia estar enfim se cumprindo. Os portais do inferno finalmente haviam sido abertos. O cheiro de sangue e enxofre que impregnava o ar deixava isso evidente.

Não sabia onde estava a passagem, não devia estar longe dali, mas encontrá-la não seria uma ideia nada boa.

Lamashtu, um dos incontáveis caídos que juraram vingar-se de Deus através do sofrimento de seus preferidos, os humanos, finalmente punha seus planos em prática.

As dezenas de criaturas medonhas passaram por mim como se não notassem minha presença. Não era eu quem elas queriam, as malditas estavam em busca de sangue humano. 

Observei-os caminhando para longe.

Não estava mais sozinho naquela cidade e estava evidente que muitos outros demônios como aqueles eu ainda estava por encontrar.

O território não era mais meu, e não havia nada que eu pudesse fazer diante do poder de um demônio como Lamashtu. A quem eu poderia recorrer?

Se os portais do submundo estavam abertos a extinção da humanidade se daria em questão de poucos dias.

Sem os humanos de que nos alimentaríamos? A invasão de demônios decretava não somente a extinção da humanidade, mas também a nossa.

A partir daquela noite os humanos tinham mais a quem temer além de nós, os vampiros.

É provável que na noite de Natal que se aproxima já haja escassez de sangue...”


Baalzerith, 21 de dezembro de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.