Conto - A Última Noite...



Devido ao horário o jovem rapaz se via obrigado a retornar caminhando do trabalho para casa. Não que isso o desagradasse, ao contrário, ele gostava de caminhar de madrugada por aquela cidade do interior. Temperatura agradável, ausência de automóveis, silêncio, segurança... Algo que certamente ele não encontraria em cidades grandes, e que lhe eram bastante agradáveis. Nem mesmo os ônibus circulavam naquele horário...


Costumava caminhar cantarolando, pensando na vida, sem se preocupar com nada naqueles quase quarenta minutos que o levavam até seu lar.

Mas naquela noite algo estranhamente o inquietava. Assim que deixou o prédio onde trabalhava uma intensa angústia tomara conta de sua alma sem que houvesse nenhum motivo especial para isso. Pensamentos estranhos, saudades até então adormecidas... Não cantarolava como de costume, apenas estava mergulhado em pensamentos desagradáveis.
Sentia saudade da família que deixara na capital. Um terrível remorso lhe corroía o espírito. Realmente era uma madrugada diferente, uma incontrolável vontade de pedir perdão, de se redimir por possíveis faltas cometidas, ainda que nada lhe viesse à mente naquela caminhada além do sentimento de culpa.
A vontade de dizer um simples “Eu te amo mãe”.
Cogitou a possibilidade de telefonar para ela, mas não era algo viável devido ao avançado horário, decidiu então que o faria pela manhã, sem falta.
À medida que se aproximava de sua casa as ruas se tornavam mais escuras devido às árvores que encobriam a iluminação dos postes. Tal fato jamais tivera efeito algum sobre ele, mas naquela noite a penumbra lhe impunha uma estranha sensação de desconforto e angústia. Tudo o que ele desejava era chegar logo à sua casa, uma vez que lá se sentiria seguro.
Seguindo tal pensamento ele apertou o passo.
Dificilmente cruzava com alguém durante o trajeto, não se recordava da última vez em que isso ocorrera nos meses em que seguia naquela rotina, mas ao dobrar uma esquina ele vê ao longe um vulto se aproximando calmamente. Um frio lhe percorre a espinha, pensa em dar meia volta e seguir por outro caminho, mas tal atitude apenas deixaria claro seu medo, o que atrairia ainda mais a atenção daquele alguém, caso tivesse más intenções. O rapaz decide então seguir, disfarçando seu estado.
A cada passo que dava na direção do vulto seu medo aumentava mais e não demoraria muito para que seus caminhos se cruzassem.
Disfarçadamente tentava verificar de quem se tratava, mas temia que sua intenção fosse percebida pelo sinistro vulto. Não conseguia identificá-lo, a escuridão o mantinha incógnito...
Poucos passos o separavam daquele que vinha ao seu encontro quando repentinamente uma sombra saltou sobre ele. Rápida, silenciosa e mortal...
Não teve sequer tempo de gritar, apenas de horrorizar-se com as enormes presas pontiagudas vindo ao encontro de seu rosto.
Infelizmente ele não teria a oportunidade de dizer à sua mãe que ele a amava...


Trecho da obra Prisioneiro da Eternidade II - A Redenção (em andamento).

3 comentários:

  1. Olha, adorei o texto.
    Envolvente, sem rodeios e muito bem escrito.
    Parabéns.

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  2. Muito bom, MESMO!!!!

    Um abraço e continue escrevendo, estou acompanhando.

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  3. Gostei muito do blog, os contos são muito bons.
    Estou ansioso para ler os livros.
    Há previsão de publicação?

    Um abraço.

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