Conto - A Predadora.



Os últimos raios de luz tornam o céu avermelhado por causa da concentração de poluente no ar. Isso não é um bom sinal para as pessoas que vivem naquela cidade, mas para quem se preocupa apenas em apreciar a beleza do sol que se põe, é algo fascinante.

Agachada à beira da mureta de proteção, lá do alto do quadragésimo andar daquele edifício, ela aprecia o fenômeno enquanto aguarda a escuridão invadir a cidade para que possa agir.

Isolada há muitos metros de altura, distante da avalanche de sons que entorpeceriam sua audição, a bela vampira procura sua vítima daquela noite.

Ela gosta daquele lugar, de se isolar um pouco, de pensar. Às vezes pensava um pouco demais.

Agia como uma ave de rapina: observava a movimentação no território, escolhia a presa que a satisfizesse e então dava o bote fatal. Impiedoso e mortífero, sempre.
Tal estratégia funcionava quando as horas estavam mais avançadas, com as ruas mais desertas, sem testemunhas. Já quando a sede precisava ser saciada mais cedo, com as ruas mais cheias, era aplicada outra tática, longe de ser menos eficiente: seduzia sua vítima e a arrastava para algum local onde pudesse sorver-lhe o sangue.
Mas ao longo do tempo as táticas variavam. Repetir o modus operandi com freqüência acaba por se tornar algo entediante. A caçada tinha que ter emoção, tinha que despertar o desejo de predadora daquela vampira, essa era a graça daquilo tudo.
Naquele anoitecer ela não está muito animada para emoções fortes. Por vezes, ao subir ali e começar a refletir, pensamentos confusos passavam a lhe povoar a mente. Uma vampira com crise existencial...
Recorda-se de como levava sua vida antes do beijo mortal. Das alegrias que tinha. Da família, das amizades, dos sonhos...
Agora era uma vampira, uma mortífera criatura da noite, eterna, sedutora...
Conhecia muitas pessoas que dariam o que fosse para serem como ela. Jamais envelhecer, percorrer o mundo através dos séculos espalhando o terror, levando a morte... Mas que sonhos ela possui? Quais amigos tem? Família? Jamais se encontrara com seus entes queridos após a noite em que fora entregue à escuridão...
Era impossível de acontecer, mas em certos momentos ela cogitava sobre a hipótese de como levaria uma vida mortal, se ela pudesse ser resgatada.
Olha para baixo. Seus sentidos aguçados devido à sua condição especial lhe permitem observar os transeuntes como se estivessem há passos de distância dela. Olhos de águia.
Um estudante jovial e de corpo atlético? Ou um gordinho nerd espinhento? Um senhor de meia-idade, grisalho e responsável por uma família? Talvez um tiozão solteirão apreciador de meninas novinhas? Um garotinho que distraidamente largara a mão de sua mãe e se perdera pela multidão? Um bebê raptado diabolicamente de seu berço diante dos olhos de sua mãe? Uma adolescente descolada e que se enfeitava como uma árvore de natal? Ou então uma gordinha tímida que jamais sequer havia sido beijada? Talvez fosse melhor mudar um pouco o cardápio, aquilo já se tornava repetitivo. Sua existência se tornava monótona e chata. Uma mulher bela e fogosa à procura de companhia? Talvez, quem sabe? Parece ser uma boa pedida...
Seus olhos aquilinos identificam uma presa, finalmente. Os pensamentos que a confundiam desaparecem diante do desejo de sangue que se apossa de seu ser. Um salto no vazio, como um falcão.


Para alguns, uma terrível maldição. Para outros, talvez a salvação.

De qualquer forma a vítima, se puder, certamente gritará...


Trecho da obra "Prisioneiro da Eternidade II - A Redenção."

4 comentários:

  1. nossa!! fico feliz que voltou a escrever no blog, já sentia saudades!!! beeijos

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  2. Oscar,

    como consigo um exemplar desse livro? Cara, gostei do conto... sabe, tem gente que pensa que queria nunca morrer... mas a frase mais certeira seria... "Tem certeza? Já pensou na solidão que o acompanhará para sempre? Já pensou em como será triste ver o mundo que conhece no processo de transformação... morrer? E testemunhar a morte de todos aqueles que ama ou amou?". Acho que numa coisa a protagonista tem razão... depois de repetir os mesmos movimentos por tantos anos deve ser bem cansativo para matar a sede proceder a mesma velha operação de sempre... o tédio é algo que pode deixar uma pessoa bem melancólica... mesmo que ela seja um monstro... ainda assim é um ser com vida, sentimentos, idéias... vontades...

    Abraços Lendários.
    Dean.

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  3. Oscar,

    como consigo um exemplar desse livro? Cara, gostei do conto... sabe, tem gente que pensa que queria nunca morrer... mas a frase mais certeira seria... "Tem certeza? Já pensou na solidão que o acompanhará para sempre? Já pensou em como será triste ver o mundo que conhece no processo de transformação... morrer? E testemunhar a morte de todos aqueles que ama ou amou?". Acho que numa coisa a protagonista tem razão... depois de repetir os mesmos movimentos por tantos anos deve ser bem cansativo para matar a sede proceder a mesma velha operação de sempre... o tédio é algo que pode deixar uma pessoa bem melancólica... mesmo que ela seja um monstro... ainda assim é um ser com vida, sentimentos, idéias... vontades...

    Abraços Lendários.
    Dean.

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  4. Olá, Oscar! Tudo bem? Seja bem vindo a Comunidade do meu livro, Revolução da Fé, A Possessão. Amei o seu Blog! Bem característico do gênero que escrevemos nossas Obras. Parabéns! Como li o recado que me deixou no orkut muito tarde, só pude passar rapidamente pelo Blog. Mas fiquei muito interessada em ler suas postagens detalhadamente. Tem muito em comum com minhas idéias e criações. Assim que eu ler tudo, com certeza, faço questão de postar comentários enaltecedores as suas Obras. Bjs!

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