Entrevista - Oscar Mendes Filho.




Como vão leitores do Prisioneiro?

Hoje não tenho um conto novo para publicar, mas sim a entrevista que concedi à minha amiga Cintia, que escolheu a mim para fazer parte de um trabalho dela para a faculdade.
Espero que gostem e agradeço a ela pela oportunidade de poder expressar minhas opiniões e falar um pouco sobre meus trabalhos.

Um abraço!!!!



1 – Primeiramente agradeço por ceder um pouco de seu tempo para a entrevista.

R – Não tem o que agradecer, é sempre um prazer auxiliar àqueles que apreciam e se interessam pela literatura. 

2 – Analisando seu material através do blog que mantém eu pude perceber que o estilo do terror que aborda é bastante particular, parecendo fugir da mesmice das histórias de terror a que estamos habituados. A que se deve isso?

R – Olha, na verdade não tenho essa pretensão, os textos nascem espontaneamente, sigo apenas o que a inspiração manda. Procuro apenas fugir um pouco de histórias muito clichês, para não cair exatamente nessa mesmice que você citou. Se eu escrever sempre sobre a mesma coisa acaba ficando cansativo pra quem lê e pra mim mesmo.

3 – Outra característica a respeito dos seus textos são os finais sempre surpreendentes, inesperados... Isso também se dá ao acaso ou é premeditado?

R – Como eu disse antes, tudo depende da inspiração, mas gosto desses finais surpreendentes e procuro sempre criar um desfecho para as histórias que realmente surpreenda o leitor. Isso faz com que ele se prenda ao texto e o siga até o final, pois sabe que provavelmente ele será bem diferente daquilo que espera. Não tem graça você começar a ler uma história quando já sabe o final, assim como em relação aos filmes, penso da mesma forma.

4 – Há quanto tempo se dedica à literatura?

R – Comecei a escrever quando eu tinha uns onze ou doze anos. Mas no começo escrevia histórias de aventura, eu me inspirava em filmes do Conan e tal. Mas sempre gostei muito de filmes de terror e comecei então a escrever sobre o tema. Já faz um bom tempo.

5 – Por que, em um país onde a literatura atualmente é pouco reconhecida, você se dedica a ela?

R – Não escrevo com objetivos comerciais. Comecei a escrever por prazer. Financeiramente não ganho praticamente nada com o que escrevo e se almejasse exclusivamente dinheiro com certeza já teria desistido há bastante tempo. O que me motiva é o reconhecimento daqueles que apreciam o gênero, as amizades que fiz graças à literatura, as pessoas que seguem o blog e gostam dos meus textos e até mesmo àqueles que os criticam. Lógico que é um sonho viver da literatura e com isso poder me dedicar exclusivamente a ela, mas acredito que isso seja um tanto utópico. São poucos os que conseguem reconhecimento suficiente para tanto, principalmente aqui no Brasil, infelizmente. 

6 – Quais seus planos futuros em relação à literatura?

R – Pretendo prosseguir com o blog enquanto houver inspiração para continuar criando. Hoje eu só publico contos nele, uma vez ou outra tenho algum trabalho meu publicado em outros endereços, mas o foco mesmo é o blog. Tenho dois trabalhos que podem ser adquiridos na forma de livro, disponíveis através do site Clube de Autores: “Prisioneiro da Eternidade – RPG” e “Contos Para Nunca Esquecer”. Tenho outros trabalhos já escritos, mas que ainda não estão disponíveis, com exceção do que dá título ao blog, o “Prisioneiro da Eternidade”, que possui os primeiros capítulos publicados nele. Atualmente estou trabalhando em outro livro, mas como não está ainda finalizado prefiro manter em segredo o tema que ele aborda.

7 – Poderia falar um pouco sobre esses dois trabalhos disponíveis?

R – O RPG eu escrevi tem alguns anos e segue uma fórmula que hoje me parece meio esquecida. Nele você faz a história através de escolhas e com isso há diversos finais a que se pode chegar. Creio que essa fórmula é que deu origem aos famosos RPG´s famosos hoje em dia. Acho essa forma de escrever bastante interessante e me inspirei em algumas revistas do tipo que li na época. Com essa fórmula o texto pode ser lido uma infinidade de vezes, pois em cada uma delas você altera o seu percurso e vivencia experiências novas, não se mantendo preso à um único desfecho. Já pensei em fazer outro desse tipo, mas por ser uma coisa bastante trabalhosa por hora não vai dar. Requer bastante tempo e concentração. O “Contos Para Nunca Esquecer” é uma coletânea de contos que escrevi e que me aconselharam a reuni-los em um livro, mas nele há também contos totalmente inéditos que não podem ser lidos em nenhum outro lugar. Vale lembrar que a arte da capa desse livro é de autoria do meu amigo Iam Godoy e que ficou muito boa!

8 – Não procura tentar seguir a linha mais comercial de literatura para obter um maior reconhecimento?

R – Nunca pensei nessa possibilidade. Escrevo usando as fórmulas que me agradam e que vim a descobrir agradarem muitas pessoas. Claro, se eu usasse as fórmulas mais comerciais seria provável que mais pessoas viessem a apreciar, mas prefiro seguir minhas convicções, ainda que elas não sejam aceitas pela mídia em geral. Acho que quando trabalhamos nós procuramos fazer da forma que achamos estar correto e que nos dá prazer. Se for pra escrever de forma a ganhar mais reconhecimento, mas que eu não goste de ler o que escrevi, prefiro não escrever.

9 – Em que você se inspira para criar seus textos?

R – Não tem algo específico. Posso me inspirar em um filme, como também em uma música, mas às vezes as idéias surgem do nada, sem aviso. Posso estar no banho, no ônibus, no trabalho, ou até mesmo cochilando. Isso é até engraçado. Às vezes fico dias maquinando uma história, para então começar a escrevê-la, em outras ocasiões eu simplesmente sento e escrevo.

10 – Poderia citar algumas dessas músicas ou demais fontes inspiradoras?

R – Em relação a filmes são os de terror em geral. Embora os atuais não me ajudem muito, eu prefiro clássicos como Drácula de Bran Stoker e filmes desse tipo. Em matéria de música, já escrevi inspirado na Hallowed be thy Name do Iron Maiden, na Schwarze Sonne do E-Nomine, e por aí vai.

11 – Há alguma espécie de “tabu” em relação a quem se dedica a esse tipo de atividade?

R – Existe sim. As pessoas acham que alguém que se dedica a essa área é soturna, depressiva, ou até mesmo diabólica e satanista. Não sei em relação aos demais escritores, mas estou longe de ser satanista, os que conheço pelo menos não são. Hoje não sigo nenhuma religião específica, acredito em Deus e em conceitos como a reencarnação. Há pessoas que fazem contato comigo achando que eu seja algum especialista em vampiros, ou algo assim, mas não tem nada a ver. Claro que para escrever sobre um tema eu procuro estudar sobre ele, mas estou longe de ser um especialista. Sou um cara comum que escreve, apenas isso. Ninguém precisa me temer ou venerar.

12 – Poderia citar algum fato curioso em relação a isso?

R – Poderia citar vários casos. Certa vez uma menina me adicionou no Messenger e com o tempo percebi que ela achava que eu fosse um vampiro. Foi muito engraçado. Só por eu escrever sobre vampiros eu seria um? As pessoas misturam bastante as coisas. Percebo também que as pessoas parecem ter algum receio em se aproximar de mim, acho que elas pensam que eu posso agir da mesma forma como os personagens que crio ou alguma coisa assim. Não sou o exemplo de simpatia, sei disso, mas não sou uma criatura sanguinária como os monstros aos quais dou vida.

13 – Já pensou em deixar a literatura?

R – Como eu disse: se eu almejasse exclusivamente o dinheiro, já teria desistido sim, mas como escrevo por prazer, nunca pensei. Tem épocas que a inspiração simplesmente desaparece e eu chego a acreditar que não escreverei mais, mas de uma hora pra outra ela vem como um Tsunami e começo a escrever frenéticamente de novo. Acho que só vou parar de escrever quando não conseguir mais criar nada ou não tiver condições físicas pra isso. Claro que todo escritor quer ver seus trabalhos publicados, mas o mercado editorial é complicado, envolve muitas coisas, principalmente influência, e isso dificulta bastante. Mas quem sabe um dia...

14 – No seu ponto de vista, a que se deve isso?

R – As editoras não são entidades filantrópicas, elas almejam lucros, afinal estamos no capitalismo. Por isso elas vão atrás daquilo que vai lhes dar algum lucro e miram no que está em evidência, no que vai lhes dar um retorno garantido e uma indicação os ajuda bastante com isso. Como não tenho “nome” e muito menos apadrinhamento de alguém famoso, o processo se torna difícil. Já me revoltei muito com isso, mas as coisas são assim e o jeito é aceitar.

15 – Como você vê o mercado literário atual?

R – O tema “terror” vem ganhando espaço no mercado editorial graças a trabalhos de boa qualidade que tem sido publicados. As antologias organizadas pelo Ademir Pascale são um exemplo disso, elas dão espaço àqueles que ainda não são conhecidos e permitem aos leitores conhecer o trabalho desses escritores. Escritores como o André Vianco hoje são reconhecidos no meio literário brasileiro e isso abre portas e mostra que autores nacionais também possuem material de qualidade que pode superar os autores estrangeiros, que sempre estão em maior evidência por já virem com um marketing pronto.

16 – Qual sua opinião a respeito do que atualmente faz sucesso no meio literário?

R – Não costumo ler muito a literatura atual. Esses Harry Potter e Crepúsculo da vida (se é que podem ser chamados de terror) não me chamam a atenção. Leio clássicos como Stoker e Stephen King, então fica difícil opinar sobre o que eu não conheço. Leio mais escritores nacionais, pois tenho contato com eles, e os que leio são muito bons, pelo menos eu gosto.

17 – Você escreve tanto contos quanto livros, e até mesmo mini-contos como constatei através do E-zine Terrorzine. Qual o estilo que mais te agrada?

R – Depende do momento. Escrever um livro é mais trabalhoso, envolve mais tempo, mas permite se aprofundar mais nos temas, explorar melhor as características dos personagens e incrementar os acontecimentos com maior riqueza de detalhes. Contos são legais, eu gosto, mas muitas vezes não dá pra se prolongar tanto, ou acaba deixando de ser um conto. Os mini-contos são um desafio porque você tem que abordar um tema de forma bem resumida, mas também gosto. Como eu disse: tudo depende do momento.

18 – Poderia citar alguns nomes atuais de referência na literatura do gênero que segue?

R – Nomes atuais... Tem vários escritores se destacando no gênero de terror e citar algum nome seria complicado porque eu me arriscaria a esquecer de algum, além de que cada um tem uma característica específica que pode ou não agradar o leitor. Prefiro que cada um tire suas própria conclusão, que leia e depois dê sua opinião a respeito.

19 – Como é sua relação com os demais escritores do meio?

R – Conheço vários deles, alguns apenas pela internet, mas mantenho amizade com o Lord A, Adriano Siqueira, J. Modesto, Nelson Magrini, Iam Godoy e etc. São pessoas muito legais, além de excelentes escritores, e me dão a maior força em prosseguir escrevendo. Às vezes peço uma opinião a eles sobre uma coisa ou outra, e sempre estão dispostos a ajudar, é um meio bastante unido, afinal, estamos todos no mesmo barco.

20 – Qual a maior qualidade e o maior defeito que pode se encontrar em um escritor?

R – Pra mim as maiores qualidades são a seriedade e a originalidade. Seriedade em se dedicar a um trabalho de qualidade, respeitando os leitores que buscam ler coisas boas e originalidade em sempre procurar algo novo, fugindo da mesmice, ser sempre original. Em relação a defeitos acho que se considerar acima de críticas, achar que seja o dono da verdade, o estrelismo e coisas assim. O escritor tem que ter humildade para reconhecer quando não fez algo bom e aceitar as críticas porque através delas podemos melhorar e vemos defeitos que nos passam despercebidos. Ouvir elogios é fácil, é gratificante, mas tirar proveito de críticas construtivas, não é todo mundo que está disposto.

21 – O que teria a dizer àqueles que almejam ingressar nesse meio, ou ainda aos que já estão inseridos e gostariam de aprimorar suas técnicas?

R – Não tenham medo. Se arrisquem, sigam seus instintos e suas inspirações. Nem todos vão gostar do seu trabalho (isso ocorre em qualquer meio), mas que procurem sempre fazer algo de qualidade, nunca se contentando com o “quase” ou o “mais ou menos”. Procurem reler o que escreveram depois de alguns dias, sempre tem algo a ser melhorado, alguma coisa para ser adicionada ou subtraída. Procurem ler bastante, pois é através da leitura que aprimoramos a arte de escrever e conhecemos novas técnicas, além de a leitura ser uma ótima fonte inspiradora e abrir nossa mente para novas idéias.

22 – E no cinema, quais são suas preferências?

R – Filmes de terror, claro, mas gosto também de filmes de ação e suspense. Mas não gosto do estilo Sexta Feira 13, onde só tem morte e sangue. Gosto daqueles filmes que fazem você pensar, refletir, que deixam você com medo de andar no escuro ou até mesmo de olhar pro lado. Carnificina, pra mim, não é terror, tipo esses Jogos Mortais que fazem sucesso, eu até assisto, mas não considero terror e não me inspiram em nada. Um filme que gostei bastante, e que é atual, é o 30 Dias de Noite, eu recomendo.

23 – Se houvesse a oportunidade, aceitaria que algum trabalho seu fosse transformado em obra cinematográfica?

R – Claro! Qual escritor não gostaria disso? O problema é que nem sempre, pelos limites de tempo impostos em uma obra de cinema, o livro pode ser feito na íntegra. Como exemplo eu posso citar, novamente, o Drácula de Bran Stoker, basta ler o livro e assistir ao filme para entender sobre o que estou falando. Mas gostaria muito de ver pessoas de verdade interpretando os personagens que crio, seria muito legal! Seria como definitivamente dar vida aos personagens e tornar reais os acontecimentos. 

24 – Qual seu planejamento para o futuro?

R – Continuar escrevendo, terminar o livro no qual estou trabalhando (estou nele já faz quase um ano) e acreditar, ainda, que eu possa conseguir o devido reconhecimento. Mas já fico satisfeito com o reconhecimento daqueles que apreciam o que escrevo, isso é bastante gratificante.

25 – Também se arriscou na criação de jogos, como isso aconteceu?

R – Sempre tiramos coisas boas do que não é bom. Eu estava desempregado e ocioso em casa, e sempre gostei de jogos de RPG então me arrisquei em criar um roteiro e colocar a mão na massa. Baixei um programa específico pra isso e passei a trabalhar em cima da idéia. Aos poucos fui evoluindo e os últimos ficaram bem melhores porque aprendi a criar efeitos mais aprimorados e que deram uma cara mais legal aos jogos. São três: Highlands, Blood War e Helland, é possível baixá-los gratuitamente pela internet, os link´s estão no meu blog. Várias pessoas já jogaram e elogiaram bastante, pra quem gosta do gênero, eu recomendo.

26 – Gostaria de dizer algumas palavras antes do término da entrevista?

R – Eu adoro escrever, embora às vezes eu passe semanas sem que seja agraciado pela inspiração, mas é uma atividade pra mim inigualável. Como escritor você tem a capacidade de criar personagens, dar-lhes vida e inseri-las em acontecimentos que estão sob seu comando. Você decide quem é ou não feliz, quem o será ou não, quem vive e quem morre, quem está certo e quem está errado. De certa forma, modéstia à parte, como escritor você se torna um pouco Deus.

27 – Agradeço imensamente pela oportunidade de entrevista-lo e desejo-lhe muito sucesso!!!

R – Obrigado. Fico feliz pela oportunidade e pelo interesse e espero que essa entrevista a ajude em seus propósitos.

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