Conto - Um Plano Funesto.



_... é verdade, precisamos de mais. Tenho fome de sofrimento e sede de sangue... – concluiu a estranha criatura.


_Deve ser algo fora do comum, que deixe as pessoas perplexas, perturbadas, algo que fuja da normalidade, da mesmice.... – emendou a outra, que parecia ser ainda mais aterrorizante que a primeira.
Ambas permaneceram em silêncio raciocinando sobre seu plano macabro. O silêncio não era total somente pelo som asqueroso que elas emitiam ao respirar.
A penumbra e o odor fétido que dominava o lugar indicava que não se encontravam no plano físico. Elas estavam além...
_Antes as coisas eram mais fáceis, mas andamos exagerando na dose a tal ponto que as pessoas parecem anestesiadas emocionalmente. Parece que não se abalam com mais nada.
_Tem razão. A última comoção que conseguimos foi com o caso da menina que caiu da janela, mas graças à imprensa, que conseguimos manipular com maestria.
_Fomos perfeitos naquele episódio, os humanos são facilmente manipuláveis.
_Já foi mais fácil, bem mais fácil. Precisamos de algo grandioso agora, uma coisa que marque...
Novamente o silêncio se instalou e ao longe os urros desesperados de almas menos afortunadas denunciavam o funesto local em que aquelas criaturas se encontravam.
_Creio ter encontrado a solução para nossos problemas...
A outra olhou-a curiosa.
_... pobres morrem todos os dias, ninguém se abala mais com isso. Adultos perturbados sexualmente que abusam de crianças inocentes também estão se tornando comuns, quase um clichê. Assassinatos, inanição, acidentes automobilísticos... ninguém parece mais se abalar com isso. Mas tenho algo em mente que aterrorizará esses humanos miseráveis e nos renderá alimento em abundância.
A curiosidade da criatura aumentava ainda mais a cada palavra pronunciada pela sua interlocutora, que tinha seu olhar tétrico perdido no vazio.
_Matemos pessoas abastadas, ao menos com um nível de vida acima da maioria. Mostremos que a morte não acomete somente os menos afortunados. Incluamos alguém de renome, de sangue nobre, de linhagem. Todas de uma única vez e de uma forma que elas dificilmente possam compreender o que as matou. Algo que torne seus últimos instantes de vida aterradores, confusos, desesperadores... As autoridades, a mídia e a população ficarão confusas, sem saber o que causou a morte delas, ou quando finalmente descobrirem já terão nos alimentado sobremaneira com sua dor, revolta e lágrimas...
_Maldição, diga logo qual o plano, odeio esse suspense irritante! – esbravejou a outra criatura sentada sobre sua grotesca cauda escamosa.
Com um sádico sorriso nos lábios grossos e verrugosos a outra prosseguiu.
_Derrubemos um avião, um daqueles enormes. Cheio de pessoas endinheiradas, estudadas e respeitadas. Engenheiros, estudiosos, artistas, empresários, executivos... Pessoas de diversos países. Isso fará com que o sofrimento se espalhe pelos quatro cantos do mundo. Derrubemos a aeronave sobre o oceano assim será bastante difícil encontrar seus restos mortais e descobrir a causa do acidente. Façamos com que os especialistas se sintam impotentes diante do desastre pelo maior tempo que for possível. – e uma gargalhada horrenda foi ouvida.
_Sim!!! Engenhoso. Mostremos que os poderes das trevas não devem ser menosprezados. Isso nos renderá alimento, muito alimento.
Num instante as criaturas se evadiram daquele local esquecido pela luz e naquela segunda-feira o acidente do vôo 447 da Air France tomou conta dos noticiários do mundo todo...
Que a alma dos que pereceram em tão trágico episódio possa descansar em paz.


2 comentários:

  1. nossa, amei a ironia, a critica detras de um conto assustador.

    passa no meu blog, tem uma novidade pra quem quer divulgar o blog. postei um texto chamado 'divulgue seu post em um blog exclusivo'. caso haja interesse, seu blog será divulgado de graça. bjs.


    Blog Suicide Virgin

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  2. Adorei esse seu conto...maravilhada, e vc acaba de ganhar mais uma seguidora.

    Beijinhos,
    Cris.

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