Conto - Vampiro à Brasileira.

Vampiro Brasileiro


Seja bem-vindo visitante do prisioneiro.
Creio que esteja saudoso por um conto sobre vampiros aqui na página, então inicio o ano de 2012 com um belo conto sobre o tema.
Espero que ele sacie sua ânsia por terror assim como faz em relação à sede de sangue do protagonista.
Boa leitura.

“Já não me alimentava a algumas noites e a necessidade de sangue começava a mostrar suas conseqüências. Precisava caçar o quanto antes.

Noite quente de verão nessa terra em que o calor é implacável. Embora seja inegável minha preferência por temperaturas mais amenas, o clima quente facilita bastante uma boa caçada. As pessoas se mostram mais dispostas em realizar incursões noturnas, estão mais descontraídas e não se atêm ao fato de que criaturas como nós espreitam nas sombras.
Faminto, decidi ir a uma dessas festas onde as pessoas buscam diversão sem medirem as conseqüências de seus atos.
Em locais desse tipo elas se entregam aos seus mais vis desejos e acabam se tornando presas ainda mais fáceis ao terem seus sentidos entorpecidos pelo álcool e por outras substâncias nada saudáveis.
Logo que adentrei o local percebi que alguns freqüentadores (os que ainda não estavam embriagados) me olhavam com curiosidade e, pelos comentários tecidos, acreditavam que eu fosse “gringo”.
Não estavam errados, afinal, minha aparecia denuncia minha origem, o que facilita minhas incursões.
O odor forte de bebida e suor impregnava o amplo salão infestado de pessoas dançando descontroladamente ao som desconexo de alguns elementos que esgoelava em um palco ao fundo.
Mulheres se contorciam como se estivessem no cio enquanto homens se aproveitavam para abusar delas. Pelo que pude perceber, esse era o verdadeiro anseio das mesmas.
Me recordo de que presenciei festas desse tipo há muitos séculos atrás e confesso que acreditava, até então, que a humanidade já não mais se entregasse ao tipo de comportamento que ali encontrei. Existindo e aprendendo...
Meu ímpeto foi o de deixar aquele local decrépito e sair na caçada de alguma jovem romântica, casta e submissa, mas infelizmente esse tipo de presa é rara hoje em dia e não tinha tempo para encontrar sangue mais refinado.
Chegava a salivar só em imaginar o sabor do rubro líquido em minha boca, mas deveria me contentar com o que estava ao meu alcance.
Decidi agir logo, escolher a vítima da noite e pôr fim àquele tormento.
Meu organismo já começava a dar sinais da abstinência de alimento.
Aproximei-me de duas garotas que pareciam estar um pouco mais calmas que as demais. Deveria me aproveitar do fato de ainda não haver ninguém se esfregando nelas e impregnando-as com seu odor pútrido e de ainda não terem poluído seu sangue com algum narcótico. Álcool era a menor das minhas preocupações.
Próximas a um balcão elas apenas conversavam e bebericavam enquanto discretamente requebravam ao som daquela música infernal.
De maneira convidativa pude perceber seus desejosos olhares em minha direção. As portas estavam abertas e o convite, entregue.
Ensaiei uma conversa e utilizei um idioma que por certo elas desconheciam para abreviar minha ação.
Embora aquela balbúrdia dificultasse um pouco, pude ler seus pensamentos. Acreditavam que eu fosse um estrangeiro abastado que poderia lhes proporcionar alguns dias de luxo e conforto.
Dificilmente rejeitariam alguma proposta que eu fizesse.
A ambição falava mais alto que o senso de sobrevivência e isso ficou nítido pelos pensamentos nefastos que permeavam a mente delas.
Não demorou muito e logo saímos daquele local asqueroso, com a promessa de que eu as levaria até meu apartamento “para conversarmos com mais calma”.
Descontraídas elas não deram muita atenção ao trajeto que fazíamos. Apesar de a tal “festa” ser próxima a uma “comunidade”, alguns hotéis de boa qualidade não ficavam muito longe dali.
Cidade peculiar onde pessoas abastadas e miseráveis são praticamente vizinhas sendo até mesmo difícil distinguir umas das outras.
Calmamente eu as levava, cada uma agarrada a um dos meus braços, para um local ermo onde não houvesse quem testemunhasse o que aconteceria.
Não que elas se importassem, esse era o desejo não só delas como o dos três rapazes que nos seguiam a certa distância.
Humanos. Previsíveis, ambiciosos e fracos. A “quadrilha” acreditava que eu fosse mais um estrangeiro sedento por sexo que cairia naquela isca barata, como tantos outros.
Lendo os pensamentos das garotas eu me segurava para não gargalhar.
Assim que adentramos por uma viela erma eu agarrei a morena e beijei com ardor. Sua pele acobreada me lembrava do motivo que fizera com que eu viesse àquela terra.
Não houve nenhum tipo de resistência.
A outra, de pele mais alva, passou a se esfregar em minhas costas, também sedenta por mim.
As duas se contorciam de excitação, mas o que eu realmente almejava era o que corria quente e rápido dentro de suas veias. Sexualidade se destina apenas às criaturas que requerem procriação, não às criaturas da noite.
O útil e o agradável, não poderia haver um exemplo melhor. Ambas se deliciavam com cada toque meu enquanto aguardam a chegada dos comparsas.
Para um predador os aguçados sentidos fazem toda a diferença: o olfato denunciava o desejo das duas, e a audição, a aproximação dos ladrões.
Eu ainda deveria dar cabo dos infelizes antes de sorver aquele sangue quente. Um pouco de diversão antes do jantar.
Rápido e certeiro, como um bom caçador deve ser.
Nem sequer haviam me tocado e dois deles já foram arremessados contra a parede da viela. O terceiro sacou de uma arma, mas seu pescoço partido o impediu de realizar algum disparo.
Como ratos que fogem de um navio que naufraga os outros tentaram escapar, mas sua passagem foi bloqueada por mim, que após um salto, me pus à frente deles.
Já eram três corpos no chão, mas o sangue deles não ma apetecia. Prefiro a doçura e a suavidade do sangue feminino, sem testosterona.
A garota de pele mais alva foi atirada ao chão com um golpe no rosto.
Antes que esboçasse alguma reação eu tapei a boca da bela morena e enfim pude cravar meus caninos em seu pescoço aveludado.
Finalmente!
O sangue jorrava, delicioso, pela sua jugular.
Sensação indescritível que apenas nós, os vampiros, podemos compreender.
Sangue, a essência da vida, o sumo que nos concede a imortalidade. A mais preciosa das dádivas da natureza.
Em alguns minutos a primeira já estava seca, e foi largada em um canto úmido.
Logo ao meu lado, no chão pútrido daquela viela esquecida, a amiga me aguardava. Chegara sua vez.
Sua pele alva me lembrava a cútis européia da qual me alimentei por séculos e um instante saudosista se abateu sobre mim.
Debrucei-me sob seu corpo também bem moldado e lhe concedi o mesmo fim da amiga: suguei todo seu sangue.
Limpei meus lábios em sua blusa e me retirei do local deixando-as à mercê do inferno”.
- É, meu amigo, assim como você, também não aprecio essa vulgaridade que vejo por aqui, mas a sede fala mais alto e por vezes nos sujeitamos a isso.
-Sim, meu caro Heitor, bem sabe que não podemos passar períodos muito longos sem nos alimentar. A necessidade fala mais alto, de forma a não nos restar muito tempo para uma melhor seleção.
-Um mal necessário. Não são presas muito refinadas, mas servem para saciar nossas necessidades.
-Encaro isso como uma espécie de “fast food”. O alimento não é da melhor qualidade, mas é útil para saciar a sede.
-Concordo plenamente contigo, amigo Mikail. Enfim, vamos andando, é noite de fast food, os alimentos mais refinados estão cada vez mais raros hoje em dia.
-Vamos, a noite será divertida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.