Lenda do Rastejante

Rastejante

Saudações leitores do Prisioneiro!

Sei que faz tempo que não publico aqui, perdoem-me pela ausência, mas hoje estou saindo do jejum.

Resolvi escrever sobre a lenda do Rastejante, bastante conhecida no sul do Brasil e, pelos mais jovens, tratada como lenda urbana ou creepypasta.

Soube dela através do meu filho, que também ama histórias de terror e pediu para que eu pesquisasse sobre o assunto.

Achei ela bastante interessante e decidi escrever um conto a respeito.

Espero que gostem do resultado.

Um abraço!

Em uma pequena cidade no interior do Paraná vivia uma linda moça chamada Áurea.

Áurea encantava a todos com a beleza de seus olhos azuis, sua linda pele de porcelana e seu jeito meigo de ser.

Certa noite Áurea estava a passear pela cidade, como sempre fazia após o jantar, e estranhamente se deparou com um caminho que até então nunca tinha visto.

De terra batida, ele adentrava por um sinistro bambuzal, que à noite se tornava ainda mais aterrorizante.

O bambuzal sim, Áurea conhecia, mas jamais tinha visto aquele caminho e achou aquilo muito estranho.

Curiosa, a moça enveredou por ele, afinal, como não o conhecia tendo estado pelos arredores tantas vezes?

Ele era silencioso, nem mesmo os grilos se pronunciavam, não havia brisa, o ar estava parado e somente o débil luar o iluminava.

“A estrada da morte”, uma lenda contada pelos mais antigos lhe veio à mente. Mas para Áurea aquela era apenas mais uma história, como tantas outras, criadas para assustar crianças.

Inocente, curiosa e corajosa ela seguiu por aquele caminho querendo descobrir onde ele chegaria.

A caminhada já durava uns dez minutos com a moça imersa no mais completo silêncio, quando ela percebeu uma estranha presença passar ao seu lado, de forma sorrateira.

Áurea se assustou e, na ânsia de esconder-se, correu para o bambuzal que beirava o sinistro caminho, agachou e ficou em silêncio, imóvel.

Passaram-se alguns instantes até que ouviu-se um estranho som, como o de algo se arrastando pelo chão de terra.

Horrorizada, Áurea viu o vulto de um corpo rastejando, seguindo pela trilha.

Ela aguçou os olhos e notou que o corpo estava desmembrado e penosamente se movia pelo caminho de terra em meio a grunhidos pavorosos.

Áurea estava em pânico, se esforçando para conter um grito de horror, quando o medonho corpo parou de se mover, logo à sua frente.

Ele a encarou, notando sua presença.

O cabelo ralo estava desgrenhado, sujo, caindo-lhe pelo rosto pálido, cadavérico, cujos olhos brilhavam na escuridão e a boca trazia um perturbador sorriso.

Os olhos voltaram-se para a moça, o bizarro corpo a olhou diretamente nos olhos.

Áurea não pôde conter seu pavor, gritou, abandonando seu esconderijo e voltando para o tétrico caminho, correndo por ele.

Queria sair dali, voltar para casa, deitar no colo da mãe e contar sobre aquilo tudo.

Desesperada, em meio à escuridão, a moça tropeçou, se esborrachando no chão e ali ficando, caída, mergulhada na escuridão e na poeira que se ergueu.

Áurea não conseguia se mover, por mais que se esforçasse, e seu pavor crescia mais e mais à medida que o som do corpo rastejante ficava mais próximo.

Sim, aquela criatura vinha em sua direção, lentamente, emitindo seus grotescos rosnados.

A moça gritou, gritou muito, mas ninguém parecia ouvi-la, quando misteriosamente o som então desapareceu.

O mais profundo silêncio se fez, Áurea se sentiu um pouco mais aliviada, mas ainda não conseguia se mover.

Teria se ferido gravemente com a queda? Como conseguiria sair daquela situação?

Ela chorou baixinho, arrependida por sua curiosidade, triste consigo mesma...

Mas os instantes de lamentações não duraram muito, um cheiro pútrido lhe invadiu as narinas, uma respiração pesada chegou aos seus ouvidos e ela sentiu o hálito próximo do seu rosto.

Áurea se deparou com os olhos brilhantes, diabólicos, logo ao seu lado, aquele sorriso como a zombar dela, de tudo que era, da decisão errada que havia tomado.

A linda, meiga e corajosa Áurea nunca foi encontrada.

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