Amantes Noturnos - O Íncubo

Inccubus

Maia era uma moça de família, disso ninguém discordava, mas o que ninguém podia imaginar é que no íntimo daquela menina doce e de aparência frágil povoavam ardentes pensamentos que lhe inquietavam a mente e faziam o corpo arder em desejo.
Sua mãe, Vera, era frequentadora de uma dessas igrejas que pregam o celibato até o casamento e não permitia a Maia se aproximar de rapaz algum no intuito de mantê-la pura e casta até o matrimônio.

Vera já deveria imaginar que em pleno século XXI seus esforços seriam inúteis, mas sua atitude, por mais bem intencionada que fosse, condenaria a filha a ter um destino terrível.

Em uma dessas redes sociais Maia acabou por conhecer Fred, que mesmo morando em uma cidade distante a encantou. Passaram a manter contato praticamente todos os dias e o interesse entre eles, assim como a intimidade, foi crescendo até que através desse namoro virtual, longe dos olhos da zelosa Vera, Maia conheceu os prazeres do amor e do sexo.

Sim, a casta Maia, maravilhada com aquele universo totalmente novo que se abria diante de seus olhos, começou a manter frequentes relações sexuais virtuais com o namorado. Primeiro por textos, em aplicativos de bate-papo, para em seguida passarem para o sexo por telefone, comum aos amantes distantes, até culminar em chamadas via vídeo.

Para Maia aquilo era mágico, mas o relacionamento à distância não a satisfazia por completo e por maior que fosse o prazer que sentisse com Fred faltava alguma coisa: o toque, o calor, o cheiro, o gosto do parceiro e aquilo começava a deixa-la desesperada.

Chegaram então as noites em que Maia, louca de desejo, acabava adormecendo chamando por Fred “Vem pra mim meu amor, essa noite quero você, vem ficar comigo” chorando em um misto de saudade e frustração.

Em uma daquelas noites solitárias quem a ouviu não foi Fred mas sim uma criatura sombria que vagava à esmo pelas redondezas, um Íncubo que, aproveitando para saciar sua fome de energia e seus desejos mundanos, passou a povoar os sonhos da doce donzela.

Nesses sonhos Maia tinha todas suas indizíveis fantasias atendidas, Fred a amava loucamente, sem pudores, pondo em prática tudo o que faziam virtualmente. Ela acordava feliz, realizada, embora um pouco cansada, e contava para o namorado tudo o que tinha acontecido, em detalhes. 

Fred não se importava, muito pelo contrário, se sentia o mais viril dos homens, orgulhoso em saber que sua amada se entregava à ele, mesmo em sonhos, então aquele acabou se tornando um hábito: Maia sempre o chamava antes de dormir com a certeza de que ele a visitaria durante seus sonhos, no que era atendida.

Mas com o passar do tempo os efeitos daquelas tórridas noites de amor começaram a aparecer: Maia começou a se sentir cansada, desmotivada e estranhamente deprimida ao ponto de nem mesmo Fred parecer mais encantá-la como antes.

Seria o sentimento de culpa por fazer algo que certamente a mãe reprovaria? Talvez, mas tendo Vera como cão de guarda e com Fred estando longe aquela era a única maneira que tinha para saciar seus desejos.
Certa madrugada algo estranho aconteceu.

Em meio a mais um sonho erótico Maia maravilhosamente fazia amor com Fred quando foi acordada por um estrondo vindo da rua e ao abriu os olhos todo o prazer que sentia se transformou em pavor quando viu que quem estava sobre ela não era o namorado mas sim uma horrível criatura que, ao vê-la o encarando apenas sorriu. A pele acinzentada, os dentes pontiagudos, os olhos amarelados, sua aparência era animalesca e se isso já não bastasse dois chifres como os de um carneiro lhe brotavam da testa.

Maia tentou gritar mas a voz não saía, tentou se desvencilhar do asqueroso ser mas não conseguia se mexer e foi obrigada a ficar ali, por vários minutos, à mercê da volúpia daquela criatura que se deliciava com ela.

Horrorizada Maia viu a besta perambular pelo quarto, com um sorriso diabólico, e dizer antes de sair tranquilamente pela janela “Me chama de novo, minha gostosa, e amanhã venho de novo comer você...”

A transtornada moça ainda estava paralisada e muda quando viu os primeiros raios de sol entrarem pela janela e só então conseguiu voltar a si.

Contar à mãe sobre aquilo? Estava totalmente fora de cogitação, Vera provavelmente a castigaria severamente. Para Fred? Temia que ele a julgasse mal e acabasse terminando o namoro.

Maia manteve em segredo o que aconteceu durante aquela madrugada remoendo-se pela culpa e a vergonha de ter se entregado a uma criatura maligna como aquela e por mais que seu corpo ardesse de desejo nunca mais chamou por ninguém antes de dormir.



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