“Tudo
o que vou lhes contar, aconteceu durante... três dias... mas... ao olhar o
relógio, constatei que só se passaram poucas horas. Mas serão horas que nunca
mais recuperarei em vida!”
Não entendo! Mas, Tommy se
foi... Não entendo, mas Sarah também não está mais aqui... Não entendo, mas... Estou
banhada em... Sangue! O sangue deles!
Fim de ano e a senhoria quer
o apartamento de volta, não sabemos para onde ir, não conseguimos procurar nada
ainda e temos dois dias para esvaziar o apê. Tommy está nervoso, pois, aqui
fica próximo da faculdade, ele não queria ir para muito longe, mas não tem nada
mais por aqui, o jeito é procurar nos limites da cidade ou nos mudarmos para o
campus... o que seria trágico, afinal, lá só tem viciados.
Procuramos o dia inteiro e
no final da tarde vimos o anúncio de uma casa, meio longe, mas o preço era
irresistível e irracional... dica... nunca comprem ou aluguem algo barato
demais, na maioria das vezes é cilada, mas, estávamos tão felizes e
desesperados que aceitamos sem nos darmos conta da armadilha em que estávamos
entrando. Mudamos-nos no outro dia. E foi quando tudo começou.
Primeiro
a intranqüilidade.
Tudo na casa rangia, tudo batia, as telhas pareciam ter
vida própria. As panelas caíam sem razão, bicho talvez? Pois é, foi o que
pensamos... Aparelhos eletrônicos ligavam sozinhos, deveríamos ter saído de lá
enquanto ainda era tempo. Mas não demos importância.
Fomos tomar banho eu e Tommy, fizemos amor embaixo do
chuveiro e de novo, batidas no teto... a água esquentou instantaneamente, quase
queimou Tommy, eu estava pegando a toalha para sair quando o escutei reclamar,
quando saímos da banheira, a água começou a borbulhar, chegou a queimar o pé
dele.
- Gritos?... Gritos!!! É a Sarah! – falei já saindo do
banheiro com Tommy atrás de mim.
Não acreditávamos naquilo, era surreal demais, mas vimos
a banheira borbulhar. Corremos, procuramos pela Sarah, nada nos quartos, nada
na sala, cozinha, seus gritos eram por toda a casa, gritos desesperados,
agonizantes, chamamos por ela, gritávamos por ela, e nada... Os gritos
tornaram-se mais desesperados ainda, eu chorava chamando por ela, até que
cessou e as batidas nas paredes começaram, as luzes se apagavam e acendiam, até
que ficamos no breu e em algum lugar da casa um relógio fez com estrondo o som
de dez badaladas, dez? Por que dez? Ainda é dia!!
Olhei para Tommy e senti-me estranha, eu o via em ângulos
diferentes, via imagens na minha cabeça, via Sarah no quarto sem que eu
estivesse em casa, via Tommy com ela, pus as mãos na cabeça, as imagens, doíam,
olhei para ele novamente e ele não entendia o que estava se passando comigo, e
nem eu conseguia falar, o brilho do
poste da rua entrava pela janela, e Tommy estava bem no centro dessa luz,
ele tentou chegar perto, pedi que se afastasse, segurei a toalha com força, as
imagens continuavam... Sarah nua em cima dele, NÃO, NÃO PODE SER!! Relutava
contra os pensamentos, mas eles não paravam, ficaram tão fortes que mais
pareciam cenas na minha frente, Tommy perguntou o que estava havendo, e em meio
a tanta dor, gritei para ele, VOCÊ E SARAH, POR QUÊ? Ele me olhou incrédulo.
Olhei de novo para onde Tommy estava e ele não estava
mais lá, eu andava agora no meio da sala sozinha, gritos de novo, era a Sarah
novamente, mas não sei explicar, mas dessa vez não me importei, algo em mim
queria que ela sofresse... algo em mim queria matá-la!
Mais gritos, lembro de ter gostado. Deixei a toalha cair,
comecei a subir as escadas chamando por Tommy, devagar, minha voz, não somente
minha, saía melodiosa, rancorosa, vingativa, mas não me importei, e
continuei... TOOOOMMYYYYY! Subindo cada degrau bem devagar. Os gritos
continuavam, eu andava arfante, como se cansada, como se um desejo enorme
estivesse tomando conta de mim, eu queria Tommy, ele me satisfaria, só que ele
não ia gostar muito do que estava por vir.
Parei no topo da escada, ouvi passos pela casa, nada eu
enxergava, mas não me importava, era como se aquilo tudo fizesse agora parte de
mim, correria pelas escadas, olhei e nada vi, mas sabia que fosse o que fosse,
não iria me machucar, um baque seco, alguém caiu, seria a Sarah? Não olhei para
baixo para ver! Continuei pelo corredor escuro, mas sabia para onde estava
indo.
Andei passando a mão na parede, as luzes não voltaram,
para mim não fazia diferença, algo em mim queria gritar, mas o algo novo que me
tornei era mais latente e sufocava o medo, sufocava minha insegurança. Em mim
parecia que agora abrigava duas pessoas, uma cruel e com desejo de sangue e a
outra medrosa, que gostaria de fugir correndo daqui... Venceu a mais forte e
meu eu amedrontado ficou somente assistindo, e cheguei perto de alguém...
Isabel... Abaixei-me, lembro de ter sentido pena daqueles olhos medrosos e
inocentes, ela estava encostada à parede e abaixei-me com a mão arrastando
parede abaixo até quase topar com o ombro dela, ela não me enxergava, estava
quieta, coitada, estava com tanto medo que mal conseguia respirar. Os ruídos da
escada pararam, portas bateram, e senti o coração de Isabel quase parar de
tanto medo. Ela pôs as mãos nos ouvidos, mas eu sabia que ainda ouvia um tipo
de agonia, só que silenciosa.
- Como você ficaria sabendo que matou seu namorado e sua
melhor amiga? – falei finalmente na frente dela e ela gritou... ela era eu, o
meu eu fraco, que sumiu restando somente uma vingança cega. Agora aquela era e
não era eu... era um misto de confusão, não parecia mais estar nesse mundo.
Saber de tudo aquilo me transformou em alguém que não gostaria de encontrar
numa rua escura, um sorriso de puro escárnio brotou em meus lábios, e imaginar
o que faria dali pra frente, me fez continuar, e incrivelmente... Eu gostei do
que havia me tornado.
De repente algo me puxou, algo em minha mente me levava,
andei, era difícil explicar aquela confusão em minha alma, só agora entendo...
Andei indo para o que deveria fazer, o que realmente queria fazer, em minha
mente a frase, “Eles mereceram! Eles mereceram!” Pensei finalmente mais forte,
“Eles merecem!!”, eu repetia isso para mim mesma, minha mente gritava,
“Traidores... Devem morrer!”.
O corredor era um pouco extenso, andando por ele topei
com algo metálico, me abaixei, uma faca, minha visão era algo perto dos seres
noturnos, eu via cada detalhe, ao mesmo tempo que olhava, parecia que eu
assistia, meus movimentos, meus pensamentos, eu estava presa dentro de mim
mesma, e não conseguia sair dali. Parte de mim era manipulação e a outra parte
era minha própria vontade agora.
Cheguei numa porta.
Coloquei a mão no trinco, o grito desesperado veio de
dentro, abri e a luz parecia ter abandonado aquele local por completo, alguém
gritava pedindo para ir embora.
- Por favor... me deixe ir... (gasp)... me... deixe vi...
viver! – reconheci aquela voz, a doce voz em meu pensamento, a voz que um dia
amei. Tommy. Ele amordaçado, falava direto em minha mente.
Outra voz falou e continuei quieta. Uma voz aterrorizada
que implorava para soltá-la... - Ela
agora implorava. – pensei.
Andei até a lateral e acendi uma vela, o foco era pequeno
e amarelado, mas não evitou que Sarah me reconhecesse.
- Isabel, me ajude... Isa me solte!! Solte-me antes que
aquela maluca volte! – cheguei mais perto dela e ela gritou... – Seus olhos...
seus olhos... são os olhos dela... não! Nããããooo! – Sarah terminou tentando se
afastar, mas não conseguiu.
Ela agora me pedia ajuda. – pensei olhando-a... haviam
duas cadeiras, uma com Sarah, somente amarrada e na outra cadeira Tommy,
amarrado, amordaçado e vendado, emitindo somente sons e ouvindo tudo que estava
se passando. Sua mente era uma confusão... Ele pensava em muitas coisas ao mesmo
tempo.
Num canto havia uma corda, peguei, Sarah chorava
copiosamente, eu calada e calma, amarrei seus pés, ela tentava em vão tirar os
pés, num jogo divertido... será que eu deveria deixá-la correr? – pensei. –
Correr para dar-lhe esperança de que viveria... e depois, abatê-la... sua morte
seria mais divertida, mas não queria gastar tanto tempo com ela... Depois de
amarrada, com a faca, cortei as cordas na lateral da cadeira, acho que cheguei
a machucá-la, pois seu grito não foi somente de susto, confirmei quando o
líquido espirrou... não parei pra ver, puxei os pés dela e ela caiu batendo a
cabeça e ficando atordoada, Tommy ouvia e tentava falar, mas só emitia
ruídos... – Calma querido, logo chegará
tua vez! – falei enfim, e eles se assustaram. Joguei a outra ponta da corda
na madeira do teto, e puxei... Estranhamente consegui içar Sarah sem nenhuma
dificuldade, ela se debatia.
Agora Sarah pendurada no meio do quarto, seus olhos
nivelados aos meus, ela emudeceu... somente chorava.
- Traidora! Ela confiou em você, cadela! Traidora... como pude confiar tanto em você?
– não consegui ter emoção, queria amedrontá-la mais.
Sarah me olhava com espanto... o medo dela se mesclou à
situação e a não estar entendendo nada sobre mim. A figura que estava na frente
dela agora era uma total desconhecida.
Tirei a venda dos olhos de Tommy, olhei-o analisando-o e
a situação não era nada boa para ele... tirei também sua mordaça e ele começou
a gritar... – Shhhhiiii... Ninguém vai te ouvir meu querido traidor! –
Sussurrei ao seu ouvido e beijei-lhe a boca deixando um gosto amargo no final,
o amargo da traição dele, ele compreendia e pedia desculpas, mas aquele momento
não era para desculpas, passamos desse limite, e voltando a olhá-lo nos olhos,
falei... – Espere um pouco sim... já estou quase acabando!
Voltei-me à Sarah com a faca na mão, Tommy me acompanhou
com o olhar e quando viu como ela estava, começou a gritar, pedindo que a
soltasse, e logo seus pedidos se transformaram em ordens e não gostei nada
daquilo.
- Vem cá querida, quero ver se o sangue de uma traidora é
vermelho também... – eu me ouvia, minha voz era cortante. Com a faca, fiz um
talho em seu pescoço, ela engasgou e o sangue pingou, abri o talho e regozijei
com a quantidade de sangue que fluía do corte. Respirei fundo, ou melhor,
suspirei. Tommy não mais gritava, a luz agora um pouco mais forte, deixava com
que ele visse todo o quadro, e eu adorei o que vi em seus olhos. Em seus
últimos minutos Sarah ainda tentou falar, mas somente balbuciou algo
incompreensível. Quando ela parou de se debater, olhei para Tommy... ele sabia
que seria seu algoz e sabia que não ia sair dali.
Nesse instante, senti como se algo saísse de dentro de
mim, deixando somente a Isabel, mas uma Isabel nada fraca, nada medrosa, e
ainda com muita sede de vingança, olhei para trás e vi alguém com um capuz
negro, Tommy olhava, vasculhava o canto escuro e nada via, olhei de novo e ela
sorriu para mim, devolvi o sorriso e dois pontos vermelhos brilharam sob o
manto negro, seus olhos faiscavam esperando que eu terminasse.
- Por favor, saia!
Isabel ordenou com uma voz ainda mais gélida. Arrepios
percorreram a espinha de Tommy, quem era aquela? No que sua namorada havia se
transformado? Com quem ela estava falando? – pensou assustado.
- No que eu me transformei? No que EU ME TRANSFORMEI??
Ou, no que VOCÊ me transformou!!!
Tommy arregalou os olhos, ela havia lido seus
pensamentos.
Após a saída da pessoa com o manto, Sarah olhou para a
porta e esta se fechou, ao mesmo tempo em que ela selava seus olhos para
sempre.
- Agora somos somente, você e eu, meu querido. Enfim,
SÓS!
- AAAAHHHH, AAAHHH... – Tommy se balançava quase
derrubando a cadeira.
- Tsc, tsc, tsc... Para que gritar? Não podem te ouvir...
Desista! – falei calmamente.
Isabel olhava para Tommy entortando a cabeça de lado,
parecendo um animal, olhos fixos em sua presa... – Por que você me traiu? Não
era boa o suficiente para você? – ela continuava aterrorizando ele com sua voz
cortante e pausada.
- SUA LOUCA!! – em sua mente, Tommy esbravejava. – Quando
sair daqui vou matá-la.
- Quando sair daí? – Isabel não conseguiu segurar um riso
de deboche – Minhas aulas noturnas eram muito boas para você, não eram? Lembro
bem o que me dizia... – Sem preguiça querida, estamos cuidando do nosso
futuro... – Nos vemos logo mais meu amor...
– Estarei aqui estudando... ESTUDANDO?? Estudando o corpo da Sarah
talvez? Canalha!
Os olhos de Tommy se arregalaram mais uma vez, quando ela
terminou de falar indo em sua direção com a faca pingando sangue nas mãos
avermelhadas.
- Nossa, como eu gostaria que você visse seu rosto agora.
Seu medo. Sua surpresa. É querido, a boba acordou!
Isabel andava brincando com a faca, passando de mão em
mão. Chegando perto dele, caminhou até suas costas e passou a faca em seu peito
de leve, e sentiu o corpo do namorado estremecer. Ele parou de se debater, pois
as correntes entravam em sua carne à medida que ele se mexia, apertando,
sufocando, uma dor lancinante, uma dor jamais sentida em todos os seus detalhes
e Isabel bateu com a palma da outra mão no peito dele fechando-o em um abraço
mortal. Um filete de sangue escorreu do machucado que ela acabava de fazer, um
talho em seu mamilo. Ele gritou!
- Isso, grite... Grite mais... mais... e mais alto!! –
ela ordenava.
Terminando de falar, levou a ponta da faca em sua coxa
afundando somente até a metade, não queria matá-lo agora. Ele gritava e agora
recomeçou a se debater, as correntes firmes começavam a rasgar seus pulsos e
tornozelos. Isabel beijou seu rosto, mandando-o gritar mais.
- Tão lindo e tão perfeito... um perfeito calhorda...
quer saber onde está Sarah agora? Acho que deve estar curioso, pois vai se
juntar a ela daqui a pouco. Quer?
- Pare com isso sua vadia! PARE COM ISSO AAAHHHHHH! –
Isabel ouvia a mente atordoada do namorado, gritar, implorar, esbravejar.
O grito veio com um novo talho agora em sua barriga, o
sangue saía forte, quente, saciando a sede de vingança de Isabel.
- Se fosse você, me preocuparia com o que vai acontecer
depois daqui... E te garanto que não será nada agradável!
- Vai mesmo me matar não é? – indagou Tommy num sussurro
depois que ela baixou a mordaça.
- Não querido... não vou somente te matar... vou te
mandar para o inferno, onde é o seu lugar... Sarah já está lá te esperando,
gostou do meu final feliz para vocês?
- Desculpe, me desculpe... me desculpe Isa... por favor,
me descul... AAAAAHHHHH.
A faca de novo o cortou agora com raiva Isabel enterrou-a
em seu braço. E foi para a frente dele. Sentou em seu colo olhando-o fixo nos
olhos. Sem piscar. Segurando a faca, a dor crescia à medida que ela mexia,
mesmo com o menor dos movimentos.
Largou a faca e apoiou os braços cruzados no peito dele,
viu seu choro e teve raiva.
- Se vai mesmo me matar, então me mate logo... acabe logo
com isso... – ele suplicava baixinho, sem esperanças.
- Não tão rápido... – pegou a faca novamente e o talho
agora foi em seu pescoço... ele grunhiu de dor. Isabel passou a língua no
ferimento, passando a mão na boca e descendo com o sangue pelo seu pescoço e
seios, que estavam à mostra.
- Pelo menos a amava? – perguntou curiosa.
- Não!
- NÃO MINTA!! A AMAVA? – indagou firme – e continuando - Diga-me querido. – insistiu agora com
voz mais baixa e pausada. – Chegou a
amá-la?
- Sim! – Tommy confirmou e baixou a cabeça. Esperando
pela sentença final.
Sem emitir palavra, Isabel levou a faca descendo por
entre suas pernas arrancando com um único golpe seus genitais e jogou-os de
lado. – Não precisará mais disso! – Ele gritava agora alucinado embaixo de seu
peso, então ela o beijou, um beijo forçado, mordido, sufocado. Parte dela
chorava, parte se satisfazia, agora ela sentia, ela mesma, desejando tudo
aquilo e não a vontade daquela que ela reconheceu, somente ela!
Agora era somente a sua vontade, e arrancou de Tommy o
beijo mais demorado e agonizante de sua vida. E naquele momento, o mais
prazeroso para ela. Quando terminou, os olhos de Tommy estavam vazios, como se
sua alma tivesse abandonado seu corpo, por uns segundos Isabel o viu desprovido
de emoções. E ao ouvido dele, acordando-o de uma espécie de transe, sussurrou,
sua voz agora era gélida, macabra beirando a insanidade.
- Passagem só de ida! – segurou a faca embaixo com
firmeza.
Tommy abriu os olhos, em meio a dor, a fúria, beirando um
ódio animal, nem conseguiu gritar, sentiu quando a lâmina o rasgou de baixo
acima, em um puxão rápido, Isabel levou o corte até a base da sua garganta,
destruindo tudo, ele ainda se debateu... ela continuou sentada em suas pernas
vendo-o morrer. Ele balançava involuntariamente e ela sorriu. E Tommy ainda
sentiu quando tão rápido Isabel enfiou a faca na lateral de seu corpo, enfiando
fundo em suas costelas... Mas não conseguiu esboçar mais nada, estava morto!
- O traidor está morto! – falou alguém atrás de si e ela
se virou.
Indo na direção da voz ao chegar perto, parou. – Então
foi aqui mamãe que pap... que... aquele maldito, a matou?
- Sim querida!
- Eles pagaram! – falou Isabel sem remorso.
- Sim minha filha, eles pagaram! – a mãe de Isabel
confirmou e continuou – Todos eles pagarão!!
Saíram do quarto e voltaram pelo corredor, Isabel chegou ao
topo da escada e olhou para baixo, no meio da sala o corpo da sua mãe estava
desaparecendo, ao final quase sumindo ela se viu, lá no chão, inerte. Então ela
olhou para sua mãe ao seu lado.
- Mas como? – perguntou sem entender.
Sua mãe somente a acolheu em seu abraço.
A casa voltou a ficar arrumada, abandonada, Isabel olhava
a poeira se formar, as teias de aranha aparecerem e se viu também desaparecer
do meio da sala, ficou ali, incrédula e sem descer a escada por algum tempo, e
tudo voltou ao que era antes, e ela resolveu sair.
- Não pode filha... tem que ficar! – falou a mãe num
pedido.
- Por que tenho que ficar? – e saiu andando.
- Não conseguirá ir embora! – a mãe dela agora falava com
certeza.
Isabel desceu as escadas, tudo estava calmo, nada de
ruído na casa, nada do barulho de antes, nada de vestígios da passagem dela, do
namorado e de Sarah por lá. O grande relógio funcionava quieto, marcava pouco
mais de três horas que haviam chegado àquela casa, horas que mais pareceram
dias... horas?? Talvez não. – pensou ela.
Chegou perto da
porta e a abriu, olhou para si, estava com a mesma roupa com que havia chegado,
um vestido negro. Olhou para trás, para sua mãe e deu três passos ganhando os
jardins da casa quando ouviu alguém conversar.
- Esta casa está fechada já há algum tempo senhor. Mas
pode conferir, é uma bela casa para se ter uma família. – falou o corretor.
- Mas querido, olha o tamanho, deve ser muito cara! –
falou uma mulher que deveria ser sua esposa.
- Nós vemos, e se ñ der, pedimos para ver outra, amor. – tranquilizou
o homem.
- Não não, vocês estão com sorte, o dono está para se
mudar de país, e quer vender tudo o que tem, e só restou esta casa, vocês vão
ver como a proposta dele é interessante!!
Isabel olhava os três chegando à casa, mas ainda
insistiu, tentou sair da propriedade, mas ao passar pelos três, o marido da
mulher mais especificamente, sentiu em seu íntimo todas as traições que fazia a
mulher dele engolir, a humilhava de várias formas, com empregadas, secretárias,
até mesmo com a irmã dela, sua cunhada, sentiu em si, um espírito podre, o
espírito de um traidor, e estacou.
Olhou para a porta e sua mãe estava lá, e olhando de novo
para o homem, aquele homem com pose de bom marido, dedicado e atencioso, sua
raiva cresceu. Deu meia volta!
Os três entraram na casa, minutos depois o corretor saiu
deixando o casal à vontade para pensar...
A porta se fechou, e Isabel sorriu.
Biografia
Regina Castro, nascida em Natal – RN, em 1976.
Publicou os contos: LEMBRANÇAS,
na Antologia Internacional Del’Secchi Vol. 13, ABRAÇO VIRTUAL, na antologia, O Grimoire dos Vampiros, Literata, FÚRIA ESCARLATE, na Antologia Bandeira
Negra, Multifoco, TREVA E LUZ, na
Antologia Asgard – A Saga dos Nove Reinos, Jambô e SEGREDOS DO OUTRO LADO DO VÉU, na Antologia Mentes Inquietas,
Andross.
Contato: reginacastro05@bol.com.br
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