De todos os objetos criados no mundo, um dos mais usados e nunca
esquecidos pela humanidade é a Cruz. Mesmo torturado o dito “salvador” até a
morte já se passado mais de 2000 anos existente, carrega em si um peso para o
resto da existência humana. Um fardo de tirania, provocadora de guerras, fome,
esperança é fé. Por esses e outros motivos sou um colecionador de crucifixos.
- Tome filho, guarde com carinho era da Vó Lena que nós tanto
amávamos. Lembro-me da minha Avó sempre com aquele crucifixo no pescoço.
Depois desse dia
passei a colecionar crucifixos. Essas peças guardam em si, energia que os seres
humanos desconhecem. Mas de todas que tenho como coleção, foi ganha por entes
queridos, familiares, amigos, amores etc.
Mas de todas que tenho, houve uma em especial, mas que não pude ficar
com ela, porque o destino não a concedeu para mim, eu não ganhei, por isso ela
não me pertencia, seu destino era outro, e por esse motivo uma praga caiu sobre
mim, a partir desse fato que irei lhe contar nas linhas que se segue, aprendi
que aquilo que não é destinado a nós, não há riqueza que nos conceda a ter
sobre nosso poder.
Era uma noite de inverno, Eu estava em casa
limpando meus objetos quando meu celular tocou, era meu amigo Gustavo, ainda
com uma voz chorona me chamando para no outro dia ir ao cemitério visitar sua
amada que morrerá a uns dias atrás.Com muita dor e ainda inconformado, sempre
desabafava comigo a respeito de sua perca, e por ser um grande amigo desde
infância Eu estava sempre dando apoio no que podia, e com prazer disse que iria
com ele no dia seguinte. A noite caiu cerrada, e como se Deus soubesse de sua
dor, o dia nasceu cinza e quieto naquele feriado de segunda feira. Ainda com um
ar apático, e uma feição triste, encontrei com Fábio em uma lanchonete, o
cumprimentei tomamos um rápido café e fomos para o cemitério. Ao chegar no cemitério, fomos direto para o
túmulo de sua amada e por um tempo ele contemplou sua foto, lágrimas caíram de
sua face, Eu fiquei parado em silêncio, só observava sua dor, pois sabia que
naquele momento não tinha palavras para confortá-lo, Percebi que ele tirou uma
foto do bolso, eram eles dois abraçados e felizes, então ele pegou a foto com a
frase “jamais te esquecerei” e colocou sobre o túmulo, ainda no cemitério e
ficamos conversando um pouco.
Naquele momento na qual Eu gostaria que não tivesse
acontecido, olhei algo que me chamou a atenção, em um túmulo de mármore muito
bonito, olhei para uma cruz que estava sobre o túmulo e me paralisei com sua
beleza e delicadeza na qual foi esculpida, Gustavo percebeu meu olhar fixo na
cruz, como ele ainda sabia de minha coleção, disse que realmente era um
crucifixo muito bonito.
Então disse que queria aquele crucifixo para marcar
aquele momento de companheirismo. Ele disse que os objetos em cemitérios eram
sagrados porque eram ganhos de familiares e amigos, e que não era uma boa idéia
roubá-lo porque estaríamos roubando algo dos mortos. Mas minha ambição me cegou, e quando me dei
conta, estava em casa com o crucifixo roubado, guardado em meio a minha
coleção.
De todas as vezes que colocava um crucifixo novo na
minha coleção, essa era a primeira vez que tinha a sensação de que aquela peça
não deveria ficar ali.
A noite caiu, tinha terminado de limpar toda minha
coleção, estava ponto para cair na cama, mas de repente percebi um vulto passar
pela janela. Arrumei a Cruz em sua devida posição e cai na cama e comecei a me
virar de um lado para outro sem conseguir dormir, meu pensamento estava
concentrado naquela maldita cruz, tentei me concentrar em outras coisas, foi
quando adormeci, mas antes isso não tivesse acontecido, pois tive um pesadelo
horrível:
“ESTAVA EM UM LUGAR SOZINHO, PARECIDO COM UMA
GALPÃO ABANDONADO, E NA MINHA FRENTE TINHA UMA PESSOA AMARRADA, SE
DEBATENDO EM UMA CADEIRA...DE REPENTE A PESSOA ME OLHOU E DEU UM BERRO QUE
CONGELOU MINHA ALMA” – É MEU! DEVOLVA-ME!
E AGARROU MEU BRAÇO. NESSE MOMENTO DEI UM GRITO DE PAVOR, FOI QUANDO
ACORDEI.
Percebi que a chuva caia forte, foi quando me
deparei com uma cena estranha, o crucifixo estava na parede no seu devido
lugar, mas com um pequeno detalhe, ele estava invertido de cabeça para baixo,
tive realmente a sensação de que aquilo poderia ser uma maldição no meu
caminho.
Levantei da cama e o coloquei do modo certo, deitei
novamente, e quando acordei, o sol já batia em meu rosto, o que significava que
Eu estava atrasado para o trabalho, levantei-me correndo.
Estava a caminho dentro do trem, já era 8:10, meu celular tocou, e uma
voz furiosa me perguntava porque eu ainda não havia chego no escritório, disse
que estava atrasado, mas minhas desculpas não iriam servir, parecia que o outro
lado da linha já estava dizendo que eu iria perder meu emprego, puxa vida, um
dia de atrasado, na verdade apenas alguns minutos, parei e pensei “será que
tudo isso está acontecendo por causa do que estou pensando?
Cheguei no
trabalho com um pouco mais de meia hora de atraso, e fui direto para o
computador terminar alguns relatórios que tinha que enviar ainda de manhã, mas
nem comecei o trabalho direito e já fui convocado a conversar com o Senhor
Mendes em sua sala. Já sabia que não iria ser uma conversa tão agradável, e não
foi mesmo. Minha demissão estava pronta.
Após anos de
dedicação e trabalho, tudo foi resumido devido a algumas falhas e praticamente
meia hora de atraso. A situação era essa, peguei minhas coisas particulares,
entreguei as chaves de meu armário e fui embora.
Parecia que tudo
estava armado, a papelada já estava pronta e meus direitos já estavam
depositados em minha conta bancária.
O círculo estava
completo, uma maldição parecia cair em meu mundo por causa do crucifixo que
roubei, e agora estava desempregado.
A noite caiu,
minha irmã Adriana me perguntou o que eu estava fazendo no meu quarto a tarde,
disse ter ouvido uns barulhos estranhos na janela, mas nem em casa eu estava?
Disse que uma pessoa tinha me ligado e queria conversar comigo, era uma mulher,
não disse o nome, mas que era importante. Mas quem poderia ser? Não me lembrava
de ninguém, quanto menos uma mulher que quisesse conversar comigo, mas tudo
bem, ao menos uma companhia feminina cairia bem na situação que me encontrava.
Resolvi dar uma
volta, fui até um barzinho aonde iam alguns amigos, lugar legal, mesa de bilhar
(adorava bilhar), música e algumas cervejas. Chegando lá encontrei alguns
amigos, e fomos jogar uma partida de bilhar, estava concentrado na jogada de
uma bola, mas nesse momento percebi que tinha uma garota concentrada em mim, ou
na minha jogada, e que garota! Pele clara, de olhos atraentes, e cabelos de
ouro, de todas as desgraças que estavam acontecendo comigo, parecia que pelo
menos uma coisa boa estava por vir. A garota estava junto a mesa de alguns
amigos, então fui até lá cumprimentá-los e é claro conhecê-la pessoalmente. Seu
nome era Helena, fiquei conversando com ela um tempo, disse que morava em uma
cidade distante e que estava a passeio na casa dos avós, por coincidência ela
disse que gostava de bilhar, então fizemos um par e fomos jogar com mais um
casal de amigos. Ganhamos a partida e alegres pela vitória fomos comemorar
bebendo mais uma cerveja, foi então que saímos para dar uma volta pelos
arredores por ali mesmo, paramos e sentamos em uma escada para conversarmos,
foi então que reparei realmente em seu rosto, me deu a impressão de ser um
rosto triste, um pouco pálido e que parecia estar precisando de mais emoção em
sua vida, conversamos bastante, percebi que tínhamos muito em comum, pois sua
vida era parecida com a minha, solitária. Então depois de observar seus olhos,
percebi o quanto era realmente linda, resolvi aproximar mais, se sentisse que
estivesse sendo inconveniente me afastaria, mas não, ela correspondeu a minha
expectativa, então acariciei seu rosto e toquei seus lábios, beijando-a como
nunca havia beijado uma mulher antes. Se fosse por mim a noite não acabaria
mais. Eram quase onze horas, Helena disse que precisava ir embora, pois seus
avós poderiam estar preocupados, e ela estava na casa deles devido aos seus
estudos.
Disse que a
levaria embora, mas ela não quis, se apavorou m pouco com a ideia e disse que
seus avós poderiam não gostar. Perguntei onde era a casa de seus avós, ela
apenas respondeu que era perto, achei estranho mas não quis comentar, por que
uma garota linda como ela estaria ali naquele bar sozinha? Indo embora sozinha?
E também não disse onde morava exatamente? Não deixou nenhum telefone, nada
para contato, mas disse que queria me ver de novo e que me ligaria. Concordei,
afinal de contas acho que concordaria com qualquer coisa que ela pedisse. Então
ela subir a escada e sumiu na escuridão.
Voltei para o bar
para conversar com meus amigos que logo começaram com brincadeiras e
perguntando como foi.
Meu celular
tocou, era minha irmã, quando atendi, percebi que ela estava chorando, sai para
fora do bar para ouvi-la melhor. Ela estava realmente apavorada. Ela perguntou
se eu estava perto, respondi que sim, afinal de contas o barzinho ficava a uns
quinze minutos de casa, então sai correndo para casa.
Chegando em casa,
entrei na sala e percebi que a TV estava ligada, minha irmã estava na frente da
TV fixada seus olhos na imagem, e com o crucifixo nas mãos, e o que estava na
TV não poderia estar acontecendo, aquilo não era um filme, o que mais me
espantou não foi aquilo, foi eu ter tirado a TV da tomada, e ela continuar
ligada com aquelas imagens e vozes distorcidas que só de lembrar me congelam a
alma.
Então acendi as
luzes, e minha irmã começou a me contar toda a história:
- Eu me deitei
para descansar. No meio da noite ouvi alguém chamar pelo meu nome, então vi meu
corpo sair da cama, daí segui até aonde estava a voz, temendo ver alguém. Tudo
estava escuro, mesmo assim dava pra ver tudo. A voz me chamava até a sala, fui
até lá com muito medo. Quando cheguei até a sala, fiquei parada em pé, estava
com muito medo, não conseguia ver nada nem ninguém. Então outra vez essa voz
sinistra me chamou. Então tentei conversar:
- Quem é você? O
que quer?
- Não importa
quem sou, importa o que vim fazer. E vim até aqui para te avisar que tem gente
do outro lado querendo falar com você. Ouça-os!
Fiquei apavorada,
anestesiada de medo.
- Estou com medo!
Por favor, não me façam nada! Tenho medo!
A voz continua a
responder:
- Não tenhas
medo. Ouça e ai sim saberá o que fazer.
Então andei até o
meio da sala e tentei sentir a presença de alguém, quando a TV ligou sozinha e
as imagens, aparecem imagens estranhas e vozes gritando e chorando dentro da
TV, as vozes pedem ajuda, outras pedem sangue, e outras choram muito e pedem
para devolver algo que está nessa casa.
Então perguntei:
- Mas o que eles
querem? Tenho medo, não vou agüentar isso por muito tempo.
A voz me responde:
- Ouça! Depois
veremos o que é.
Então cheia de
medo, tomei coragem, olhei para TV ligada e disse:
Não sei o que
querem, me dê um sinal, uma pista para eu tentar fazer o que querem.
E assim a TV se
calou e todas as portas e gavetas do móvel que sustentava a TV se abriram, em
seguida a TV desligou sozinha. Então tive a impressão de acordar de um sonho no
meio da sala, então abri a primeira gaveta, tomei um choque, estava lá guardada
aquela cruz que tanto está te fazendo mal. Daí a TV ligou sozinha de novo e
começaram as vozes de novo. Então você chegou.
Ela me olhou
chorando e me perguntou com um ar de assustada o que significava tudo aquilo.
Então expliquei tudo o que havia acontecido desde que roubei aquele crucifixo
que ela estava nas mãos. Na hora ela me disse para devolver o crucifixo.
Era tarde, e
fomos dormir, mas antes não tivesse ido, caí na cama e peguei no sono pesado,
de repente comecei a ter pesadelos horríveis, pois aquela cena da televisão não
saia da minha cabeça, mas antes fosse somente isso, tudo começou a se misturar,
e quando menos esperava minha amada de pouco tempo estava em meus mais terrível
pesadelo. Ela estava pálida, com um olhar triste, sobre uma luz vermelha,
somente via seu rosto, parecia que de sua boca saia sangue, ela tossia em
desespero, chorava e me perguntava se eu a amava, então tinha que lhe dar um
nome, caso contrário ela seria para sempre o vazio, o nada. Mas por que eu
teria que lhe dar um nome? Pensei. Então gritei “Helena”, então ela correu, fui
atrás, lembro de entrar em uma espécie de galpão, onde tinha uma pequena gaveta
aberta, quando me aproximei vi que dentro da gaveta havia um crucifixo que
reconheci na hora, nessa hora ouvi uma voz que disse “me devolva”, essa voz
também era conhecida, olhei para os lados mas não vi ninguém, me aproximei mais
da gaveta e quando fui pegar o crucifixo, uma mão saiu de lá de dentro e
agarrou a minha, dei um grito de pavor, foi quando acordei gritando banhado de
suor, e para minha tranqüilidade estava na minha cama, com o celular tocando.
Respirei fundo, peguei o celular, e a chamada estava identificada como
“Helena”, mas como? No momento só lembrava de uma pessoa com esse nome, mas
quando atendi, aquela voz suave me acalmou na hora, reconheci que era a voz de
minha amada da noite anterior, ela disse que tinha pego meu celular e anotado o
número sem eu perceber, conversamos um pouco, e ela disse que estava com muita
saudade de mim e queria me ver, com certeza disse que também queria muito
vê-la, então ela me passou seu endereço, e disse pra ir as 3:00 horas da tarde.
Já era quase meio
dia, levantei, tomei banho, almocei, quando estava quase de saída, minha irmã
me abraçou e disse que estava feliz por eu ter dado um fim naquele crucifixo.
Mas como assim? Eu não tinha nem mexido naquele crucifixo até então. Ela disse
que o crucifixo não estava na minha coleção, nem o encontrou no meu quarto, nem
em nenhum canto da casa.
Já tinha passado
das 2:00 horas da tarde, eu estava com pressa, queria ver minha amada, e não
queria me atrasar para o encontro, então disse para minha irmã que deveria ter
esquecido o crucifixo em algum lugar e que iria dar um rumo para ele assim que
o encontrasse.
Saí de casa e
peguei o ônibus, perguntei ao cobrador sobre a rua, ele me disse onde descer,
pois sabia mais ou menos onde era o endereço que Helena me deu. Desci do
ônibus, meu coração saltava de alegria, pelas placas notei que achei a rua,
segui até o número indicado, mas percebi que havia algo errado no endereço. Já
havia estado naquele lugar várias vezes. Talvez o número estivesse errado? Ou o
nome da rua? Pois eu estava em frente ao cemitério, e por coincidência o mesmo
onde furtei aquela cruz, então resolvi entrar e seguir pelos números dos
jazigos, foi quando de longe vi algo que congelou minha alma. Aquele crucifixo
era lindo e exatamente igual ao que furtei. Mas como poderia ser? O que ele
estava fazendo ali? Seria o mesmo?
Foi quando me
aproximei, e para meu espanto olhei para a foto da falecida, minhas pernas
ficaram bambas, me ajoelhei observando a foto, mas é claro que a conhecia.
Abaixo da foto estava escrito:
HELENA FERNANDA TIOSSI
(20/02/1980 – 26/05/2005)
Biografia
Adriana Almeida Fernandes - Em construção.
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