"Escuridão: Momento em que meus pensamentos estão
presos em minha mente e não conseguem sair... Em meio a tormentos eles criam
situações e se eu fosse você, não ficaria muito tempo perto de mim."
- Havia um homem
chamado Joey, ele era um cara esquisito, fechado, morava em um apartamento onde
não conhecia seus próprios vizinhos e seus vizinhos não se lembravam de quando
o viram pela última vez... Ele não foi sempre esse homem amargo e solitário,
ele amou alguém, mas isso já faz tanto tempo que até parece que foi em outra
vida. Lucy, meiga e sorridente, ao lado dela Joey tinha uma vida,
"ela" era sua vida... Mas, um desconhecido embriagado acabou com tudo
na saída do restaurante, Joey ainda se lembra de seu último sorriso, o
derradeiro, até escutarem os freios do carro, que, não deram certo e o
motorista passou por eles levando no para-brisa sua amada, foi tudo muito
rápido... e até hoje ele se culpa pela morte da mulher que amava.
Pensamentos perturbavam
sua mente, lembranças agiam em sua vida como fantasmas, mas ele não queria se
livrar delas, tudo pelo que passou o levaram até onde estava, um homem com
experiências, trocaria tudo por Lucy, mas isso estava fora de cogitação, ela
estava morta! E ele sabia detalhe por detalhe da vida de quem a matou, somente
uma multa não bastaria. Insanidade? – Sim, talvez... Mas, ele não sairia livre
nem pelo fato de ser o filho do juiz... Descoberta interessante essa que,
somente fazia com o que o ódio crescesse no coração dele... O assassino
pagaria... E como pagaria! – pensou.
Tarde da noite,
somente o pio da coruja quebrava o silêncio naquela madrugada, a porta se
abriu, nenhum ruído, os passos eram leves, o homem andou pela sala e viu uma
vida muito bem estruturada, as fotos da família adornavam a mesinha de canto,
ele passou por cada uma delas olhando friamente, chegando à foto de Hector parou
e pegou, olhou e pousou o porta-retratos deitado com a foto virada para baixo,
olhou ao redor e viu o início das escadas e subiu cada degrau devagar, como
quem faz uma prece... Tudo na casa dormia.
Chegou ao
primeiro andar e olhou porta por porta, numa delas uma linda menina de cachos
loiros dormia tranquilamente, ele olhou e fechou a porta sem ruídos, seguiu,
tinha mais três, atrás da segunda porta viu seu alvo, mas não seria naquele
momento, primeiro ele teria que sofrer... Fechou também esta porta e seguiu
para a porta que queria, chegando lá, o juiz Afonso dormia um sono sem sonhos,
o juiz estava sozinho, sua esposa havia morrido quatro anos antes vítima de um
câncer, Joey entrou e fechou a porta, trancando-a.
Perto do juiz,
sua vontade era de estraçalhá-lo de uma só vez pelo ato injusto que teve com
sua Lucy, mas não, tinha chegado até ali e não teria pressa!
Devagar, pousou
a bolsa no chão e abriu, retirou um lenço grosso e algemas, foi para cima do
juiz, possuído de uma fúria animal e imobilizou-o com seu próprio corpo, o juiz,
um senhor de idade já avançada assustou-se acordando, e na penumbra, Joey fez
sinal que ficasse calado e quieto ou então mataria sua linda filhinha. –
ameaçou. E ele obedeceu... Joey amordaçou-o e o algemou começando a falar.
- Coisa muito
feia o que fez senhor Afonso, tsc tsc, sabia que tudo tem seu preço? - Joey
falava pausadamente controlando sua raiva.
O olhar do juiz
era de espanto e incredulidade, não sabia como aquele homem tinha entrado em
sua casa, e quem era esse homem? Procurou se lembrar, mas não conseguiu e
percebendo, Joey continuou...
- Fácil esquecer
não é? O assassino da minha Lucy dorme aqui ao lado e eu nem toquei nele, ainda!
- a expressão de Joey era ora lúcido, ora perturbado, mas ao falar isso, Afonso
logo soube do que se tratava.
Debatendo-se na
cama, ele gemia tentando falar algo e Joey chegou perto...
- O quê? Agora
você quer falar? Quer me enganar? Ah, já sei, quer barganhar pela sua vida
medíocre e a do seu filhinho... hummmm, eu acho que não, e de quebra, tem uma
loirinha linda me esperando, acho que não posso demorar muito com você, não é?
- Joey sussurrava bem perto do ouvido de sua vítima querendo apavorá-lo cada
vez mais, mas de repente...
- Não faça isso! Não faça meu amor... – a voz feminina
atordoou-o.
Joey sacudiu a
cabeça, tinha ouvido algo, aquela voz... Não seria possível! Chegando perto do
juiz agora com uma faca em punho, escutou de novo...
- Nãããão, você não merece isso meu querido... Se o
fizer não virá encontrar-me! – a doce voz suplicava.
A voz de Lucy
era muito forte na cabeça de Joey, Afonso não entendia e chorava por seus
filhos, por si próprio, não sabia se sairia vivo dali e se não saísse, o que
seria da pequena Judith? Tinha que dar um jeito de se livrar daquelas algemas,
mas estavam muito apertadas, olhava para seu algoz, ele estava falando sozinho,
olhando para o vazio, era um louco! - pensou.
Chegando perto
novamente do juiz, em meio aos apelos da voz em sua cabeça, encostou a faca no
peito do homem estático, Afonso não conseguia nem tremer, fechou os olhos e
somente ficou escutando aquele lunático gritar, falar, argumentar com um ser
invisível, a faca era pressionada com mais e mais força à medida que Joey falava
a ponta da lâmina já começava a ferir o peito de Afonso que não aguentando
começou a gemer de dor, no meio de uma discussão sem fim, seu assassino
enterrou a faca até o cabo fazendo o juiz gritar um grito abafado por causa do
pano em sua boca, o sangue aflorou em abundância, vendo todo aquele líquido
vermelho Joey passou a mão perto da faca e com os dedos sujos passou a mão por
todo seu rosto começando a gritar...
- Você começou a
ser vingada meu amor...
Levantou da
cama, mas Hector havia acordado e agora batia com força na porta do quarto do
pai, gritava por ele, esmurrava a porta... Joey olhou para o cadáver e puxou a
faca que saiu pingando pelo tapete. Ao abrir a porta, olhou para o jovem que
não esboçou nenhuma reação, por segundos ficou em choque fitando aquele homem
de feições estranhas e ele tinha algo no rosto, continuando a olhar, viu que
era vermelho, o odor logo denunciou... - Sangue? Num impulso olhou pelo lado do
corpo do homem e viu seu pai na cama, sabia que algo havia acontecido, tentou
passar por Joey, mas este pegou em seu pescoço e o levou até seu pai...
- Vê... Vê o que
sua irresponsabilidade causou à sua família! Chore por seu pai agora, pois não
terá muito tempo!
E Joey começou a
falar sozinho novamente, Lucy estava cada vez mais nítida em seus ouvidos com
seus apelos desesperados, sua alma sofria por seu amado, não queria que ele
fizesse aquilo, mas era tarde, tudo já havia começado. Ouvindo todos aqueles
murmúrios Hector tentou aproveitar um momento em que escaparia, mas não
conseguiu e a mesma faca agora ensanguentada teve também destino no corpo do
rapaz, Joey o acertou nas costelas e puxou, causando um enorme ferimento de
onde jorrou o sangue, a loucura estava instalada na cabeça de Joey e vendo todo
aquele sangue ele soltou o rapaz, que no chão, começou a rastejar procurando
sair dali, o que não conseguiu, pois sentiu quando outra facada foi-lhe
imposta, agora nas costas na direção do pulmão, Hector agonizou tentando falar
e Joey chegou bem perto pra tentar escutar, mas o rapaz nada dizia, engasgado
no próprio sangue e ele começou a gargalhar de um jeito mórbido. Ali ficou
Hector, sua vida apagou-se enquanto ele mirava a porta do quarto.
Agora faltava
pouco, só restava a menina, não era justo deixá-la sozinha no mundo. - pensou.
E, andando por cima do corpo do rapaz, Joey parou e puxou a faca das costas
dele continuando com seu intuito seguiu para o quarto da garota, em seus
ouvidos a voz de Lucy implorava, suplicava pela vida da inocente, mas agora
Joey não a ouvia mais, queria mais sangue, queria terminar sua vingança, queria
toda a família morta!
Ao abrir a porta
do quarto, a garota já vinha saindo em disparada, pois tinha ouvido seu irmão
gritar e parou abruptamente com os olhos verdes arregalados olhando para Joey,
a faca enterrada logo abaixo dos seios, ela se segurou nele e calou o grito de
súbito, o sangue escapou de sua boca e Joey olhou para aqueles olhos de onde
aos poucos a vida se esvaía surpreso e arrependido, eram os olhos de Lucy, eram
iguais aos de Lucy...
Pela manhã a
polícia chegou e viu na porta do quarto de Judith, Joey agarrado a ela,
murmurando...
- Perdoe-me
minha querida, perdoe-me minha Lucy, perdoe-me por machucá-la...
E repetia isso
com a garota nos braços e os olhos vidrados sem brilho, perdidos no vazio.
Biografia
Regina Castro, nascida em Natal – RN, em 1976.
Publicou os contos: LEMBRANÇAS, na Antologia Internacional Del’Secchi Vol. 13, ABRAÇO VIRTUAL, na antologia, O Grimoire dos Vampiros, Literata, FÚRIA ESCARLATE, na Antologia Bandeira Negra, Multifoco, TREVA E LUZ, na Antologia Asgard – A Saga dos Nove Reinos, Jambô e SEGREDOS DO OUTRO LADO DO VÉU, na Antologia Mentes Inquietas, Andross.
A Regina tem uma mente muito criativa rsrs. E muito bom ter a oportunidade de conhecer o trabalho dela.
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