Conto - Pecado Rubro.

contos de terror

Pecado Rubro

Edimburgo, novembro de 2009.

Me lembro, fiquei lhe devendo a explicação quanto à nossa necessidade de sangue, não foi?



Explicar a fixação que nós, vampiros, temos pelo sangue não é das mais fáceis tarefas, parece ser algo semelhante à explicar para um cego o que é o vermelho, mas farei o meu melhor.

Os sentimentos que buscamos ao adquirir sangue pode, de certa forma, se assemelhar a um estupro.

Sim, parece ser a comparação correta: estupro.

Que prazer o estuprador sente?

Não é somente um prazer sexual, ele vai mais além, há o prazer de subjugar, de tomar à força, de extrair aquilo que não é permitido, de fazer o que é proibido.

A vítima deve lutar, tentar fugir, implorar por clemência, para que a situação faça o agressor sentir-se poderoso.

Caso a vítima aja de forma contrária, tomando o controle da situação, demonstrando estar sentindo prazer com o ataque, o transgressor perde totalmente o interesse, não há nada que lhe provoque tesão.

O tesão está em dominar, subjugar, extrair o proibido...

Assim ocorre conosco, os vampiros: beber o sangue de um humano não é o primordial, mas sim o ato em si, os sentimentos que ele envolve.

A caçada, a transgressão, nos trazem um prazer semelhante ao que sente o estuprador, o prazer da vítima implorando pela vida, de lhe roubarmos algo que não é permitido, de fazermos algo proibido, de estarmos violentando a vítima tanto física quanto moralmente, espiritualmente.

Esse é o real tipo de prazer que obtemos ao sorvermos o sangue, mas o rubro líquido não é essencial para nossa existência, é mais como um fetiche, um indescritivelmente prazeroso fetiche.

Sim, grotesco, concordo contigo, mas essa é a nossa natureza e, por mais que eu já tenha tentado lutar contra ela, percebi ser inútil.

...

Ando em meio às pessoas, mas não sou mais humana há muito tempo, não envelheço e não posso morrer como os humanos, sem que sequer deem-se conta disso.

Obviamente minha idade verdadeira difere muito daquela que meu corpo aparenta, sim, vocês tem muito a aprender sobre nós, os inumanos.

Possuímos a capacidade de alterar significativamente nossa aparência, porém utilizar esse dom consome uma razoável quantidade de energia que deve ser reposta o quanto antes.

Creio que já imagine o que isso ocasiona.

Meus longos e negros cabelos ondulados contrastando com minha pele extremamente alva parecem fascinar os homens e, somados aos meus olhos esverdeados, fazem com que dificilmente os homens resistam aos meus encantos.

Por vezes, algumas mulheres também caem em minhas garras, sangue é sempre sangue, o que difere é o padrão energético que cada sexo emana.

Homens costumam ser mais brutos, possessivos, já as mulheres são mais sutis, doces, mas não convém generalizar, não foram poucas as vezes em que me surpreendi.

Prefiro agir durante a noite, não por algum tipo de imposição física (ao contrário do que ditam livros e filmes), mas sim por gosto.

Normalmente é na noite que as pessoas se revelam por completo, deixam aflorar seus instintos, e é exatamente isso que procuro: a energia que emana dos que se aventuram a extravasar todas suas vontades, sem máscaras.

Um fato inconveniente é que meu corpo é frio, aquecendo-se ao contato com outros corpos, no princípio isso pode causar grande estranheza, mas após algumas carícias dificilmente o parceiro se importa com isso.

Outro detalhe interessante: sim, meu coração bate, caso contrário como os fluídos circulariam pelo meu corpo?

Stoker, Drácula, o famoso livro... é sério que você ainda se atém ao que está escrito na obra do velho irlandês?

Mas vagar através dos séculos não é tão prazeroso como imagina. Há altos e baixos, assim como na vida humana.

Por vezes torna-se penoso ter que saciar nossa sede noite pós noite, não poder prolongar algum tipo de relacionamento por saber que cedo ou tarde haverá a dor da despedida, existir de maneira solitária, vagando dia após dia, sem ter um destino definido...

Os humanos conhecem seu destino, a morte, mas eu não tenho essa certeza, e se parar muito para refletir sobre isso acabo enlouquecendo, como já aconteceu algumas vezes, e devo ser sincera e alertar que não foi nada agradável estar por perto quando isso aconteceu, mas entrarei em detalhes em outro momento, quem sabe.

Durante muito tempo eu ficava à procura de bêbados pelas ruas escuras para saciar minha sede.

Inexperiente, agia assim logo que adentrei esse universo obscuro, mas com o tempo aprendi que podia ter algo bem melhor que corpos encharcados de álcool.

Posso usar meu poder mental e induzir telepaticamente as vítimas para agirem ao meu bel prazer, já fiz muito isso, mas que graça tem abusar de um verdadeiro zumbi sem vontade própria?

Onde fica o prazer da conquista, a adrenalina da caçada?

Usar desses artifícios só é necessário em casos extremos e já há um bom tempo não sou obrigada a isso.

Voltemos à Edimburgo, local onde se deu a história que tenho para contar.

Inverno...

Para mim era indiferente, mas as baixíssimas temperaturas faziam com que as pessoas permanecessem em suas casas.

Claro que, para quem estava caçando, isso não era nada bom, mas sempre há quem deseje curtir a noite, perambular pelas ruas, àquela altura ainda mais desertas que o habitual.

Dão mole pro azar.

Uma ou outra alma perambulava pela Cowgate, um dos meus endereços preferidos da capital escocesa, sem notar minha presença.

Construções antigas, o lado velho da cidade, repleto de pubs onde normalmente as pessoas costuma ir para poderem aquecer o corpo com goles de whisky ou mesmo cerveja.

Odeio bebida, deixa um gosto estranho na boca, no suor, no sangue, mas nada é perfeito e no momento da fome temos que nos satisfazer com o que temos à mão.

Estava próxima de um beco onde havia um pub bem movimentado mesmo sendo quase duas da manhã e o frio ser terrível.

Não haveria problema algum em entrar no The Three Sisters para escolher a vítima da noite, já havia feito isso muitas vezes, mas para que me dar ao trabalho se a vítima perfeita já vinha na minha direção?

Conforme o grandalhão ruivo se aproximava meus olhos se aprofundavam nos dele, o tesão foi imediato e recíproco.

Sequer houve necessidade de conversar, agarrei-o pela mão e o conduzi até um beco não muito longe dali.

Você conhece algum homem que recuse um convite assim? Até hoje não encontrei nenhum...

Há alguns dias a polícia havia interditado o local após o corpo de uma moça ter sido encontrado, mas o caso foi encerrado sem uma solução, como tantos outros, e o beco já estava liberado novamente.

A safada beijava bem, que descanse em paz.

As ruas não estavam totalmente desertas, as pessoas pareciam estar no cio, não ficavam quietas dentro de casa, mas o beco, já conhecido meu, era bem longo e escuro e dificilmente alguém iria nos incomodar.

E o que alguém iria querer em um lugar como aquele em uma gélida madrugada como aquela? Se fosse o mesmo que nós, ótimo, a festa seria ainda mais animada...

Encostei na parede fria e úmida e deixei que aquele ruivo enorme me agarrasse forte e passeasse sua língua macia em minha boca. Suas mãos atrevidas já me apalpavam toda e logo estavam dentro da minha blusa.

Seios grandes, aveludados, firmes como os de uma virgem, mamilos pequenos e róseos, quem é capaz de resistir?

Logo ele já os chupava como um bezerro mamando em uma vaca, com força, com fome, vontade, tesão... um animal.

Agarrava com vontade minha bunda e apertava, mordiscava meu pescoço, chupava minha língua, puxava meus cabelos.

“Du er lækker”, ele sussurrou no meu ouvido.

Sim, o gigante ruivo era dinamarquês.

Não demorou muito e percebi que o pau dele já estava do lado de fora da calça, mesmo com aquele frio que, para ele, devia ser quase insuportável.

Não há frio que faça um garanhão desistir de uma fêmea e um dinamarquês como aquele já devia estar bem acostumado àquele frio.

Ele me apertava mais em seu corpo, gemia alto, esfregava seu pau duro por cima da minha calça, deixando-a toda melada.

O garanhão fervia, o vapor que subia de seu corpo, contrastando com a baixíssima temperatura, fazia com que parece pegar fogo.

Um dinamarquês, um delicioso viking de barba ruiva e olhos de um azul glacial de tirar o fôlego.

Já há muitos séculos não saboreava um homem como aquele, afinal, o cardápio é bastante amplo.

Comecei a masturbá-lo lentamente, apertando bem forte aquele falo enorme que pulsava na minha mão e não via a hora de colocá-lo na boca.

Seu sangue seria sugado por ali, eu o drenaria pelo falo, lentamente. Com aquele frio ele só perceberia quando fosse tarde demais.

Mas, para minha frustração, o grandalhão não conseguiu se segurar por muito tempo e me sujou de esperma toda a calça.

Encarei-o seriamente, ainda queria desfrutar muito mais daquele corpo, mas de maneira patética ele me perguntou se eu tinha gostado e começou a fechar o zíper.

“Og så kan lide det?”

Gostado do quê?

Rapidamente agarrei-o pelo pescoço, esmagando sua traqueia com os dedos.

O ruivo era enorme, mas por mais forte que um homem possa ser ele nunca terá a força de um de nós.

Os olhos dele se arregalaram, talvez pela dor, ou pela surpresa ao notar minha força, não sei.

Arremessei-o contra a parede do outro lado do beco e pude ouvir o estalo de suas costelas, e talvez também de sua espinha, se partindo.

Provavelmente foi a espinha, também, porque ele caiu de bruços no chão e não se levantou mais.

Aproximei-me dele e com um chute virei-o de barriga para cima.

Espinha partida, ele não se defenderia.

Traqueia esmagada, ele não gritaria.

O grandalhão estava totalmente à minha mercê.

Lhe abri as calças e tirei para fora o enorme pênis, que já não estava muito duro depois de ter gozado.

“Det var velsmagende, ja, men det vil være meget...”

Traduzindo: “Estava gostoso, sim, mas isso será muito mais...” foi o que eu disse antes de cravar meus caninos naquele pau.

O infeliz se contorcia debilmente, sentia os espasmos de seu corpo enquanto sorvia aquele sangue quente. Não era bem o que eu queria, mas foi bem interessante ter aquele homenzarrão todo para que eu fizesse com ele o que me desse vontade.

A falta de reação incomodava um pouco, mas o gosto ferroso do sangue que descia pela minha garganta anulava o problema.

Aquele pau, eu alternava entre sugar o sangue e praticar a felação, e aquilo era muito excitante.

Suguei-o lentamente durante quase quarenta minutos.

Era pouco provável que alguém nos visse, mas ainda que acontecesse não desconfiariam de nada, acreditariam ser um simples boquete, mesmo naquele chão congelante.

Logo o ruivão desfaleceu e assim que o coração deixou de bater me afastei lentamente.

De volta à Cowgate, já saciada, voltei para meu apartamento.

Não sei o que ele fazia em Edimburgo, quem era, se tinha família, esposa ou filhos, e nem me importava em saber. Ele queria prazer? Eu lhe dei, mas cobrei o preço que os vampiros cobram.

Depois de gozar ele teria que me pagar, por bem ou por mal, ou achou que seria de graça? 

*Um dos inúmeros contos do livro "Nas Garras de Karani", que estará disponível em breve.

contos de terror

Shelly Webster

Biografia

Shelly Webster - pseudônimo de uma autora que escreve para exteriorizar sentimentos reprimidos e dar vazão à fantasias inconfessáveis.
Graças à liberdade que uma identidade fictícia lhe proporciona cria livros que mesclam o horror e o erótico, sem vulgaridade, com essência e sensibilidade.
Máscaras fazem-se necessárias na sociedade hipócrita em que vivemos.
Posso ser sua empregada, sua chefe, até mesmo sua esposa.
Seu maior sonho, seu pior pesadelo, quem sabe?
Posso estar ao seu lado nesse exato momento, mas para que saber quem sou se o que vale são minhas ideias?
Conheça meus trabalhos: http://shellywebsterwrite.wix.com/books


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