Conto - Confusão Mental.






Ouvi contar uma história que me parece verdadeira de uma mulher de fortuna que trabalhava como voluntária num hospital psiquiátrico.

Sendo muito virtuosa e um exemplo de caridade não se contentava em apenas ajudar o hospital com doações financeiras. Gostava mesmo é de por a mão na massa.
Alimentava os pacientes, caminhava com eles pelo jardim e ouvia suas histórias muitas vezes sem pé nem cabeça.
Um dos internos lhe contou que os culpados por sua desordem psíquica são os fantasmas que o visitam todas as noites. Além de aparecerem como assombrações, eles se infiltram em seus pensamentos e o fazem agir como louco. Dia após dia, os médicos tentam convencê-lo de que tais aparições não existem. O entopem de remédios e calmantes e estando constantemente dopado já há muito perdera o senso do que é real e do que provém do efeito das drogas.
Insistiu para que a mulher acreditasse nele, e ela muito atenciosa, jurou que tinha fé em seu relato. Não satisfeito, o paciente avisou que teria uma prova da veracidade de suas palavras ainda aquela noite.
Meneando a cabeça afirmativamente a mulher se despediu morrendo de pena daquela pessoa totalmente desbalanceada.
Ao chegar em casa já a noitinha com a sensação de dever cumprido, a mulher se surpreendeu com uma mesa repleta de comida e guloseimas. Morava sozinha e apesar da fortuna, não tinha empregados. Imaginou que o ex-noivo havia preparado tudo aquilo, uma vez que ele não quis devolver as chaves do imóvel quando romperam o relacionamento.
Faminta, resolveu se alimentar antes de ligar e agradecer a gentileza. Comeu e bebeu até se satisfazer por completo e ao se levantar todas as sobras da mesa desapareceram bem diante dos seus olhos. Risadas sinistras ecoaram e espectros meio transparentes fizeram uma roda em volta dela.
Em pânico, lembrou-se do que o paciente havia dito naquela tarde e desmaiou de tanto medo.
Acordou presa em uma maca numa sala cinza e fria. Aquele interno que cuidara estava bem ao seu lado preparando uma injeção. Trajava um avental branco e luvas de látex. Ela se esforçou para ler as letras miúdas no bordado do jaleco e quando o homem se virou notou que as letras em preto indicavam: Dr. George Mitz.
Todos os dias, há mais de cinco anos a mulher fantasia ser voluntária naquele hospital e finge que o seu médico é um paciente desequilibrado. Ela sempre credita piamente nessa ilusão e a sua confusão mental a ajuda sobreviver afastando mesmo que por alguns momentos os fantasmas que a assombram.




Susy Ramone

Biografia: Susy Ramone é o pseudônimo de Susana Lima, nascida em São Paulo - Capital em 1977. Professora de inglês e escritora, teve a sua primeira publicação impressa intitulada O anjo maldito pela editora Livros Ilimitados em 2010 e um de seus contos será publicado na antologia Histórias Envenenadas da Editora Andross com lançamento previsto para agosto. Muitos de seus textos fantásticos podem ser encontrados no blog Red Rose: www.susyramone.blogspot.com






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