Aline sempre foi uma menina bela e desejada, fazendo sucesso tanto na faculdade quanto no trabalho, não somente entre os rapazes.
Não era promíscua, dizia apenas que curtia a vida e, para tanto, não assumia compromisso com ninguém, de forma que não houvesse quem poderia lhe colocar rédea alguma.
Bonita, inteligente e bem sucedida, a fila de pretendentes para tê-la ao seu lado só fazia aumentar.
Frequentava festas promovidas pelo alto escalão da sociedade e conhecia gente bela, rica e influente. “Aproveitava a vida”, como ela mesma costumava afirmar.
Mas, apesar de possuir tudo o que desejava, Aline possuía um medo que chegava se tornar uma fobia: o de envelhecer.
Sabia que o seguir dos anos lentamente iria lhe retirar a beleza tão admirada, e com isso, a atenção que sempre lhe dispensavam, diminuiria.
Não, isso ela não poderia suportar. Era como se a energia que absorvia de todos os paparicos dispensados a ela fosse essencial para sua sobrevivência. Não desejava se tornar uma velha esquecida, isso nunca!
Por mais que se cuidasse em academias e fizesse tratamentos de beleza dos mais modernos e caros, sabia que cedo ou tarde as rugas surgiriam e o efeito da gravidade seria implacável com ela.
Precisava fazer alguma coisa, mas o quê? Ela sabia que o segredo da juventude eterna era cobiçado pela humanidade desde sua criação e desconhecia o fato de alguém tê-lo descoberto.
Ela seria a primeira, a qualquer custo. Preferia a morte a ser velha e feia.
Deixou de frequentar as baladas em que era presença constante para embrenhar-se em sua fanática busca. Perdeu a conta de quantos livros lera e quantas bibliotecas visitara atrás de informações que a levassem a encontrar o que procurava.
Passados alguns meses ela repentinamente embarcou em penosa viajem até a Tailândia. Reservou todas suas economias e pediu férias no trabalho, seu chefe, claro, que já lhe devia alguns “favores” consentiu prontamente.
Amigos e familiares ficaram desconcertados com tão estranho destino, visto que a bela jovem viajava somente para lugares badalados, como Paris, Nova Iorque e Londres, o que ela iria fazer naquela selva desconhecida?
Apenas ela sabia.
Com a ajuda de um guia e intérprete local, que a muito custo concordou em mostrar-lhe o caminho, chegou até uma longíngua aldeia no meio da densa floresta.
Com a ajuda do intérprete, que desejava partir do local o mais rápido possível, ela expôs ao xamã seu desejo.
O ancião relutou bastante, mas diante da comoção da jovem, acabou por aceitar seu pedido, alertando que o preço poderia ser elevado demais.
Ainda assim ela concordou, afirmando que não havia preço que ela não pagasse para ser eternamente bela e jovem.
O guia, aliviado, partiu, uma vez que o xamã informou de que seu serviço tornar-se-ia desnecessário, deixando Aline à sua própria sorte.
A garota, embora estranhando os costumes locais, foi muito bem tratada durante as duas semanas em que permaneceu na aldeia. Havia a necessidade de um posicionamento específico da lua para que o ritual que lhe concederia seu desejo pudesse ser executado.
Finalmente chegou a grande noite, e em meio a belas festividades ela foi conduzida ao local onde se daria a cerimônia. O xamã, acompanhado de belas jovens trajando vestimentas ornadas com flores e plumas, e alguns fortes guerreiros tipicamente bronzeados e trajados, a conduziu até uma imensa caverna escondida em meio à floresta.
No entanto ela estranhou o que encontrou: no local encontravam-se inúmeras estátuas de belas jovens dispostas de maneira a formar um belo, porém sinistro, museu de estátuas.
Sim, Aline teria o maior desejo de sua vida atendido, finalmente.
Sua beleza seria imortalizada para todo o sempre, mas em forma de uma estátua de calcário e poderia ser admirada para todo o sempre, porém, somente pelos habitantes locais.
“Na maioria das vezes somos incapazes de expressar da maneira correta nossos desejos.”
Camila Schwartz
Biografia: Camila Schwartz, nascida em São Paulo (1982), escreve nos momentos de lazer não pleiteando ser uma escritora renomada ou publicar algum livro. Seus contos e textos são enviados apenas aos amigos, de forma a mostrar-lhes realidades que até então desconhecem, sob seu prisma de percepção.
Conto especialmente cedido para o aniversário do blog Prisioneiro da Eternidade.
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