Conto - O Baú.





O museu, localizado na Europa Central, acabara de receber inúmeras peças recém encontradas numa construção secular e aparentemente abandonada em meio a uma floresta na Transilvânia. Tais artefatos estavam agora numa sala para verificação e estudo, antes de serem colocadas à mostra em uma exposição especial.

Elena era a responsável pela equipe de arqueólogos e estudiosos que marcariam as peças para a exposição. Seus olhos brilhavam diante da riqueza cultural que tinha bem à sua frente.
Era tarde da noite e apenas ela ficara no prédio. Deveria terminar logo aquele trabalho, pois os responsáveis pelo museu em breve marcariam a data da exposição.
Os artefatos resumiam-se em espadas, lanças, escudos, joias e um pequeno baú de madeira rústica sem nenhum acabamento ou ornamento. Estava trancado por um pequeno cadeado de ferro que os arqueólogos não conseguiram abrir com medo de deteriorar.
Aquela peça causou uma sensação estranha em Elena.
Após estudá-lo e analisar o cadeado, procurou pela ferramenta adequada para abri-lo sem danificar. Quando o cadeado destravou, Elena retirou-o com o máximo de cuidado e com a mesma cautela abriu a tampa.
Horror.
Essa era a palavra que definia suas íris dilatadas e o pulsar descompassado em seu peito.
Em dezessete anos como arqueóloga era a primeira vez que colocava os olhos em algo como aquilo. Como o reportar aos seus superiores? Como relatar para si mesma?
— O que significa isso? — pergunta num tom baixo, incrédulo.
— É incrivelmente belo não acha?
Elena virou-se rapidamente e deparou com um homem parado diante de si.
— Quem é você? Como entrou aqui? — as palavras saiam como numa rajada de tiros: rápidas e altas.
Ele sorriu. Era um homem bastante alto, barba curta e cerrada, tão castanha quanto os longos cabelos. Parecia calmo e não demonstrava ter nenhuma pressa.
— Seus amigos pegaram algo que me pertence e eu vim resgatá-lo.
— Nada aqui lhe pertence. Não sei como passou pela segurança, mas vou chamá-los agora mesmo.
A arqueóloga correu para um dos lados da enorme sala onde havia um telefone preso à parede.
Tirou o fone da base, mas não conseguiu falar. O invasor arrancou num único movimento o aparelho da parede.
Elena soltou um grito e caiu sentada no chão ao perder o equilíbrio.
— Não gosto de pessoas teimosas.
Agarrou-a, levantando-a pelos cabelos. Colocou os olhos dela bem diante dos seus.
— Você e seus amigos são ladrões asquerosos e merecem pagar pelo que fizeram.
A arqueóloga tentou gritar, mas a voz foi impedida de sair quando ele cravou as presas em seu pescoço, drenando dela todo o sangue que conseguiu, até deixar o corpo de Elena cair morto sobre o piso frio. Algumas gotas do sangue pingavam da barba quando se afastou de Elena e foi até a mesa de madeira onde se encontrava o precioso baú.
Repousou os olhos sobre o que existia no interior do objeto e sentiu uma espécie de paz invadir-lhe ao perceber que o que estava lá dentro não fora maculado.
— Não lhe fizeram nenhum mal não foi? — pergunta num tom amável, como se estivesse falando com alguém.
Fechou a tampa do baú e repôs o cadeado. Tomou o objeto por entre as mãos protegendo-o, como se amparasse a mais valiosa vida. Passou pelo corpo da arqueóloga e foi embora.
No baú havia o coração de sua amada que fora arrancado por um caçador. O vampiro matou o assassino, mas não pôde reviver sua vampira. Desde então guarda o coração dela como se fosse a mais inestimável jóia.





Gisele G. Garcia

Biografia: Gisele G. Garcia nasceu em São Paulo, Capital, em agosto de 1988. Formada em Técnico em Produção Gráfica, atua na área de Designer Gráfico e faz Editoração Eletrônica.
Ainda muito jovem ao assistir Drácula do diretor Francis Ford Copolla se apaixonou pelos vampiros e pelo filme, o que a levou a conhecer mais sobre vampiros até chegar à sua paixão... Os vampiros da Autora Anne Rice.

Aos treze anos leu o primeiro livro da autora Adelaide Carraro e isso a incentivou a querer escrever. Tem também como ídolos Agatha Christie e Harold Robbins.

É autora do livro Sangue e Desejo (Editora Literata em parceria com o selo Listas Literárias).

Participou das antologias: Marcas na Parede (Andross Editora), Casos Minimalistas (Pergaminho Editora Online) e À Sombra do Corvo (Editora Literata em parceria com o selo Estronho) e da Revista TerrorZine 19 /21. Participa das antologias: Histórias Fantásticas Vol. 2 e Vol. 3 (Cidadela Editorial); Insanas, Elas Matam (Editora Estronho); VIII Demônios: Luxúria (Editora Estronho) e Asgard – A Saga dos Nove Reinos (Jambô Editora).

É mantenedora do blog www.letrasdesangue.blogspot.com onde publica seus contos.







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